sexta-feira, maio 28, 2004

Delírios (2)


Enquanto escrevo este post, ao meu lado um grupo de gente culta e bem formada comenta a péssima actuação do governo. Dizem que a política do governo é um autêntico roubo a quem trabalha. A gasolina aumenta, e claro que a culpa é do governo. O custo de vida aumenta e a culpa é deste governo e do governo do Cavaco (não existiu um outro governo pelo meio?). Falam do povo ignorante, que o povo tem a memória curta. Mas eles não, eles lembram-se e tentam levar a palavra. E se existirem muitos como eles, pode ser que este governo perca as eleições.

Falam do Salazar de saias, do que querem é poleiro, das reformas escandalosas dos políticos, que isto não é democracia mas uma ditadura encoberta. E os espanhóis, que pena não sermos espanhóis, mas também que se fodam os espanhóis, queremos é o nível de vida deles (e trabalhar como eles?), e o Aznar foi competente, não foi nada (por ser de direita). E em Portugal 300 mil pessoas passam fome, e o segredo da economia é meter dinheiro nos bolsos das pessoas para elas consumirem, mas esta gaja (Ferreira Leite) é gananciosa, faz contas de merceeiro e só quer arrecadar impostos. E a carcaça que aumentou o preço, e se tiver manteiga o IVA é superior... aqui entrou-se numa série de piadas non sense. Alguém que fez um reparo sobre as distinções entre os IVA das carcaças e foi ridicularizado por não estar a bater no governo.



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quinta-feira, maio 27, 2004

Delírios (1)


PARABÉNS A JOÃO VALE E AZEVEDO

O FCP é Campeão Europeu e é de toda a justiça dar os parabéns ao principal responsável por isso: João Vale e Azevedo (JVA). O próprio ficaria surpreendido com estas congratulações, se é que ainda pode mostrar surpresa em relação a alguma coisa. JVA foi a primeira pessoa em Portugal, com responsabilidades no mundo do futebol, que acreditou nas capacidades de Mourinho como treinador de futebol. Por cá, todos achavam que ele não passava de um tradutor do Bobi Robson, e o tipo que trazia e levava o saco das bolas para os treinos. Hoje, Mourinho afirma-se como um dos melhores treinadores do mundo, correndo sérios riscos de ser também um dos mais bem pagos.

Mas JVA merece esta vitória por outras razões. Considero que é também o principal responsável pela revitalização do futebol em Portugal. No tempo do penta-campeonato do FCP, o nível futebolístico era muito baixo. Lembro-me de um célebre jogo do campeonato, apenas para cumprir calendário, entre Benfica e Sporting em que a assistência foi de apenas mil pessoas. O futebol estava morto. Os jogos eram chatos, várias vozes diziam ser melhor parar o futebol por um ano ou dois. Propunham-se novas regras, a integração dos três grandes num campeonato ibérico, etc. O FCP, de longe a melhor equipa nacional nesses tempos, tinha medíocres prestações nas competições europeias, face à fraca competitividade interna. JVA com o seu estilo muito próprio galvanizou a comunidade benfiquista. Apesar do Benfica nada ter ganho, o futebol português foi subindo de nível, por arrasto. O FCP voltou a ser um dos benificiados, indirectamente, da actuação de JVA.

JVA continua preso. É difícil fazer a sua defesa, mas ao mesmo tempo também é fácil. É difícil porque aquando do seu primeiro julgamento se teve a sensação que ele iria ser declarado culpado, fosse ou não responsável pelas acusações. Ele tinha de ser culpado! De cerca de uma dúzia de acusações, foi declarado culpado de uma, tendo levado uma pena bastante severa para o que estava em causa. Espantosa a forma como ninguém se interrogou como surgiram as outras acusações. Mas outros julgamentos estavam pendentes.

No caso de JVA, vejo um aspecto relevante e outro pouco relevante. O aspecto pouco relevante é a própria culpa (ou não) de JVA. Como benfiquista quis que ele fosse condenado pelo que fez, se é que fez. O próprio JVA não conseguiu responder adequadamente a algumas acusações que lhe foram sendo feitas. No entanto, considero este o aspecto pouco relevante. O aspecto relevante, para mim, foi a construção e publicação de dezenas de acusações contra JVA, muitas delas contraditórias entre si. Foi a pessoa que vi ser mais atacada em Portugal nos últimos anos, com quase ninguém para o defender a não ser ele mesmo.

Isto para mim é relevante porque tal catadupa de acusações, vindas de todo o lado só é possível com uma grande “comunhão de esforços”. Seria um case study fenomenal analisar a máquina humana responsável por tal actuação. De certo iriam-se descobrir tráfico de influências, corrupções, máfias, etc. que em muito iriam superar casos como o “Apito Dourado”. A prisão de JVA não torna o ar mais puro, mas levar toda esta máfia oculta ao xadrez poderia ter benefícios insuspeitados.

No entanto, tudo isto não desperta nenhum interesse em ninguém. Entre descobrir a verdade e ter uma resposta simplista para as situações (tipo JVA é culpado e não se fala mais nisso), as pessoas preferem optar sempre pela segunda. Os portugueses são acusados de muita coisa mas raramente são acusados de cobardia. Como nos referenciamos uns aos outros, a cobardia passa despercebida. E não é tão bom que assim seja?



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terça-feira, maio 25, 2004

Instantes televisivos


CASAMENTO REAL ESPANHOL

Segunda-feira os meus ouvidos foram inundados por críticas ao casamento real (ou principesco) em Espanha. Não entrei em diálogo com ninguém sobre o assunto, mas por onde passava, grupos de pessoas insurgiam-se contra a excessiva cobertura televisiva. Alguns afirmavam que ficaram sem saber o que fazer, porque em todos os canais lá estava o casamento. Tendo muitas destas pessoas TV por cabo, podiam ter optado por outros canais, muitos que passam bons documentários a toda a hora. Mas mais estupefacto fiquei por muitas destas pessoas nunca verem televisão (segundo afirmam), e logo foram invadidas por um desejo incontrolável de ligar o aparelho mesmo na altura em que decorria o maldito casamento. Noutro sábado qualquer estariam a dormir, a fazer amor, a cozinhar, nas compras, a saltar de pára-quedas, a dar água às flores, milho aos pombos. Mas neste sábado não...

Infelizmente, confesso que não assisti em directo ao casamento. Mas houve para mim dois momentos notáveis que observei mais tarde. Um deles foi na altura em que, frente ao altar, o noivo fazia as juras de amor eterno. Letícia (é assim que se escreve?) esboça um sorriso quase imperceptível em direcção ao príncipe. Nesse momento, muito mais que as palavras vãs, senti ali existir um momento de real comunicação. Acho muito bonito quando as pessoas casam e ainda conseguem comunicar. Em directo ainda assisti ao célebre momento em que os noivos vão até à janela do palácio, acenam à multidão e beijam-se. Mas, surpresa, também se abraçam... A jornalista que acompanhava o desenrolar da situação deixa no ar a pertinente questão se tal também faria parte do protocolo. Naquele momento questionei-me eu se a imbecilidade jornalística também faria parte do protocolo.


EURO 2004

Scolari de repente ficou polular. Rescrevendo, Scolari tornou-se num ápice popular para as televisões, depois de ser um mal amado por elas. Bem sabemos que agora fica mal ser “bota abaixo”, mas é curioso ver a forma rápida como as coisas mudam e também a forma rápida que poderão voltar a mudar face a algum desaire. Os populares apoiam a selecção. Porquê? Dizem eles que são portugueses. Simples. Quantos anos serão necessários para os intelectuais aprenderam a ser assim em relação a tantas coisas?



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Uma Europa impossível de repetir


Numa altura em que o projecto europeu levanta dúvidas, sobretudo nas questões de falar a uma só voz e em se obter unanimidades, talvez olhando para as comunicações móveis se possam tirar algumas ilações. O sistema GSM entrou em funcionamento há mais de 10 anos e veio substituir uma série de sistemas todos incompatíveis entre si. Pode-se dizer que foi uma vitória para os europeus, que conseguiram pela primeira vez estarem todos de acordo sobre alguma coisa.

No entanto, é preciso ver com alguma atenção no que consistiu esta “comunhão de vontades”. As primeiras especificações do GSM, compostas por mais de 5000 páginas, apenas continham indicações precisas sobre a realização das interfaces entre os vários elementos da rede. Trocando por miúdos, estas especificações, que podem ser consultadas por qualquer pessoa, criaram a possibilidade de um sistema único mas também fomentaram a livre concorrência entre os vários fabricantes. Pequenas empresas, como a Ericsson e a Nokia, tornaram-se gigantes mundiais.

O facto do GSM ter resultado e ser um sucesso estrondoso (a repetir no UMTS?) deveria fazer-nos pensar naquilo que resulta e não resulta. Na verdade, após governos, investigadores, fabricantes, institutos reguladores, etc. estarem de acordo, o que impulsionou tudo foi a reacção das pessoas. E não foi logo de início, levou anos até o sucesso se generalizar. Lembro-me dos intelectuais deste país insultarem todos aqueles que utilizavam telemóvel, e que agora todos utilizam o dito cujo. E há casos paradigmáticos, como o das SMS, de início desprezadas pelas próprias operadoras e que se revelaram um sucesso.

GSM é o acrónimo de Global System for Mobile communications. Na realidade, a sigla GSM já existia antes deste acrónimo, mas na altura significava Groupe Special Mobile. O abandono do francês foi forçado pelo poder do inglês. Será essa uma das razões da França ser o país com menor taxa de penetração de telemóveis?

Daqui poderá ter algum interesse fazer um paralelo entre a implementação do GSM e o novo projecto europeu, com a nova constituição. No entanto, esse paralelo é impossível de fazer. Para começar, não existe uma forte vontade política dos vários governos em avançar num objectivo comum (o objectivo da Cimeira de Lisboa de superar os EUA, completamente irrealista, vem sido substituído pelo objectivo de rasteirar os EUA). Existe apenas uma forte tentação de alguns governos controlarem outros governos indirectamente. Mas mais importante que isso, o envolvimento que se pede às pessoas é do género “ou estão comigo ou então estão contra mim”.

É curioso ver que os actuais líderes europeus, quer de direita quer de esquerda, são pessoas muito abaixo dos verdadeiros construtores da Europa do passado. Sem visão, sem entusiasmo, sem vontade, sem carisma. No entanto, substituem tudo isto pela convicção de saberem o que é melhor para cada um de nós.



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terça-feira, maio 18, 2004

Eixo franco-alemão pouco móvel


É sempre difícil tirar ilações válidas das estatísticas, para além daquelas explícitas nelas mesmas. Mas chamou-me a atenção o facto de, na União Europeia, sem contar com os novos membros, serem precisamente a França e a Alemanha os dois países com menor taxa de penetração do serviço móvel. Sendo a média europeia de 86,6%, a Alemanha fica-se pelos 75,6% e a França apenas pelos 66,6%. Portugal tem uma taxa de penetração um pouco acima da média (89,8%). Nos três primeiros lugares situam-se o Luxemburgo (116,5%), a Suécia (97,4%) e a Grécia (93,5%). Estes dados podem ser consultados aqui. Apesar de já não serem actuais, as relações entre os países devem se ter mantido quase inalteráveis.

O facto dos três países com maior taxa de penetração serem muito diferentes entre eles, em termos sociais, culturais e históricos, impede tirar conclusões de per si. Já no fundo da tabela, França, Alemanha e Bélgica, têm mais semelhanças, e até fisicamente estão juntos no centro. É curioso notar que estes três países serem aqueles cujos os governos e povos mais anti-americanismo têm mostrado. Isto é curioso porque as comunicações móveis são precisamente o único campo em que a Europa supera claramente os EUA, mas nestes 3 países o seu sucesso é fraco, comparado com outros.

É interessante também ver que o fenómeno da má fé contra os EUA, em muito instigado pela Alemanha e França, esteja agora também a virar-se contra estes países. Especialmente na blogoesfera, têm-se multiplicado os posts denunciando as intenções autoritárias e concentracionistas de poder avançadas pelo “eixo”. Com ou sem razão, instalou-se a fé nas más intenções de franceses e alemães.

Mas sobre as comunicações móveis e as possíveis lições daí a retirar ficará reservado o próximo post.



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segunda-feira, maio 17, 2004

Comemorações – O florescimento dos Jacarandás


Já disse neste blog que era benfiquista. No entanto, sinto-me inconfortável com as comemorações ocorridas. São compressíveis, mas nestas alturas aprecio mais o recato e a contenção. Comemorar no Marquês de Pombal, para as televisões, acaba por ser também uma forma de agressão a outros. E para mim, essa não é a essência do futebol.

Por isso, decidi comemorar outra coisa: O florescimento dos Jacarandás em Setúbal. Andava já há algumas semanas à procura desse acontecimento em Lisboa, e eis que bem mais perto de mim ele acontece. Eis aqui um pequeno vislumbre.



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sexta-feira, maio 14, 2004

Chega o calor, chega a vergonha


Depois de várias ameaças, parece que os dias quentes vieram para ficar. As jovens deste país tiram dos seus baús aquelas camisas curtas, e ficam de umbigo à mostra. Percebe-se que muitas foram apanhadas desprevenidas e uma camada adiposa (vulgo pneu) sobressai na zona média do corpo. Longe de mim estar aqui a fazer avaliações estéticas, quando a minha barriga já começa a apresentar um volume preocupante. Faria a mesma figura daquele júri do concurso da Sic (para Miss Portugal?), que não passa de um bando de feios, mal jeitosos e mal encaradas a julgar umas meninas que têm uma beleza que não se lhes compara.

Mas dando-me a algum futurismo, fico a imaginar que tais barrigas daqui a umas semanas terão recolhido, muitas delas, para uma posição bastante mais recuada (sem pneu, para dizer de outra forma). Penso então que, para estas meninas, o que lhes interessa é a avaliação exterior e é para isso que fazem as dietas do biquini. Durante o resto do ano parece que não se importam muito de andar com uns “quilinhos” a mais, apenas porque ninguém vê. Ou entao, só se preocupam com os quilos a mais quando eles são mais visíveis. Parece que a auto-avaliação conta de muito pouco. Este conceito de beleza, apenas voltado para o exterior e muito para os desconhecidos, daria pano para mangas se fosse analisado. Mas isso já deve ter sido feito milhares de vezes.

O que pode servir de consolo a estas meninas é que uma barriga feminina com algum pneu será sempre mais bela que qualquer barriga masculina, mesmo comparando com aquelas lisas e musculadas dos modelos.
Depois de várias ameaças, parece que os dias quentes vieram para ficar. As jovens deste país tiram dos seus baús aquelas camisas curtas, e ficam de umbigo à mostra. Percebe-se que muitas foram apanhadas desprevenidas e uma camada adiposa (vulgo pneu) sobressai na zona média do corpo. Longe de mim estar aqui a fazer avaliações estéticas, quando a minha barriga já começa a apresentar um volume preocupante. Faria a mesma figura daquele júri do concurso da Sic (para Miss Portugal?), que não passa de um bando de feios, mal jeitosos e mal encaradas a julgar umas meninas que têm uma beleza que não se lhes compara.

Mas dando-me a algum futurismo, fico a imaginar que tais barrigas daqui a umas semanas terão recolhido, muitas delas, para uma posição bastante mais recuada (sem pneu, para dizer de outra forma). Penso então que, para estas meninas, o que lhes interessa é a avaliação exterior e é para isso que fazem as dietas do biquini. Durante o resto do ano parece que não se importam muito de andar com uns “quilinhos” a mais, apenas porque ninguém vê. Ou entao, só se preocupam com os quilos a mais quando eles são mais visíveis. Parece que a auto-avaliação conta de muito pouco. Este conceito de beleza, apenas voltado para o exterior e muito para os desconhecidos, daria pano para mangas se fosse analisado. Mas isso já deve ter sido feito milhares de vezes.

O que pode servir de consolo a estas meninas é que uma barriga feminina com algum pneu será sempre mais bela que qualquer barriga masculina, mesmo comparando com aquelas lisas e musculadas dos modelos.



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quinta-feira, maio 06, 2004

O meu cartaz é mais estúpido que o teu


Quem chega a Setúbal, no final da A12, pode ver os cartazes das 4 forças políticas mais mediáticas. Alguém desprevenido ficaria confuso sobre o seu propósito, que longe está de mostrar ser as eleições europeias. Afinal de contas, isso também interessa aos próprios partidos. PS e PSD sobre a Europa têm as mesmas visões. E de resto, o que acontece com muita frequência é todos os deputados portugueses no parlamento europeu a votarem em bloco, independentemente da cor política, a bem do interesse nacional. Por isso, apesar das decisões europeias serem cada vez mais determinantes para Portugal, estas eleições de pouco valem. Mas claro que servem para fazer aqueles joguinhos que nós tanto apreciamos.

Admito que o melhor cartaz é o do BE. Concedo também ser o mais estúpido. Na verdade, o bloco não necessita de qualquer pretexto para colocar “outdoors”, aliás, é essa a sua razão de ser: Mostrarem-se na TV, nas paredes, na rádio, no parlamento. Aparecer, gritar, falar bonito, ser contra os maldosos deste mundo. Com uma simplicidade desarmante, o cartaz do BE mostra os 4 “líderes”, da guerra do Iraque. “Eles mentem, eles perdem”. Poderia ser mais simples e eficaz, assim já com a imagem de Aznar a preto e branco? Claro que Aznar não perdeu nada porque nem sequer concorreu às eleições, mas foi o seu partido e daí se torna fácil fazer a relação. Os outros, que se saibam também não perderam nada. Mas o facto é que, para quem é susceptível às mensagens do bloco, aquilo é uma “verdade” que sabe muito bem ler e ver. O bloco consegue assim, num simples cartaz, criticar o governo, a direita, os conservadores, os liberais, os EUA, a globalização, mostrarem-se como justiceiros, puros, prestidigitadores, sábios, inteligentes, descontraídos, divertidos…

Já PSD/PP pareceram esperar pelo PS. Acharam que o PS iria dar mais um tiro no pé, com uma mensagem qualquer desajeitada. Acertaram, e veio aquela ideia estúpida dos cartões amarelos. Foi fácil responder com a ideia, não menos estúpida, mas bastante apropriada dos cartões vermelhos. Já os cartazes no PCP não são estúpidos, são apenas tristes. Face a este panorama, se tivermos uma grande abstenção nestas eleições não vou ver isso como um sinal negativo para a democracia. Vou pensar apenas que ainda resta alguma sanidade aos portugueses.



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E é de futebol que nós (homens) gostamos (2)


Uma menina na baixa de Lisboa abordou-me. Já sabia de antemão as suas intenções, preparada ela para me fazer um questionário que serviria de prelúdio à venda de outra coisa qualquer. Decidi apenas sorrir e responder-lhe afavelmente que não estava disponível. No entanto, a sua pergunta surpreendeu-me: «É benfiquista?» Por momentos, senti-me tentado a responder, mas consegui conter-me. Percebi a estratégia. Falar de futebol, de um clube e, em Lisboa, do Benfica, tem grandes probabilidades de suscitar interesse. E mesmo se fosse sportinguista ou portista, a tentação era também responder logo, para afirmar que não era benfiquista.

Quando mais novo, houve uma altura em que tentei gostar de futebol. Alguns devaneios de fim de adolescência diziam-me que ver futebol era sinal de pouca estatura intelectual. Ou dito de outra forma, o futebol era coisa de broncos e eu queria ser visto de outra forma. Mal sabia eu que, passados 10 anos, me iria identificar bastante mais com as pessoas simples, especialmente do campo, do que com os intelectuais deste país. No entanto, sempre ficou para mim um mistério a razão da fobia feminina ao futebol.

Esse mistério ainda não foi desfeito por mim. Claro que percebo que há quem não goste de futebol e que a maior parte das mulheres se insira nesse grupo. Mas a grande dúvida é dos motivos porque tantas mulheres não suportam que os homens gostem de futebol. E não é só em relação aos “seus homens”. Tenho reparado, por várias vezes, que muitas mulheres não têm qualquer pudor em tentar ridicularizar o “gosto masculino” pelo futebol, mesmo que isso envolva serem deselegantes para com desconhecidos. Algo as irrita tão profundamente que o espírito se lhes turva. Não sei o que é, mas incomoda-me...



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terça-feira, maio 04, 2004

E é de futebol que nós (homens) gostamos (1)


Pretendia fazer um balanço desta época futebolística, assim estilo Marcelo Rebelo de Sousa, antes do Sporting-Benfica, no entanto atrasei-me. Posso adiantar que sou benfiquista e sócio.

Sobre o Porto não há muito a dizer. Mesmo que não ganhem mais nada, esta já será uma grande época, com o campeonato ganho, lugar na final da taça de Portugal e uma boa campanha na liga dos campeões. Mesmo que no ano passado tenham ganhado tudo, neste ano estão melhores.

O Sporting, com esta derrota, acabou por fazer uma época má, perdendo tudo o que havia para perder. Parece que as alianças e separações estratégicas com o FCP não tiveram o resultado esperado. Não me custa dizer que preferia mil vezes ver o Sporting campeão que o FCP, mas os sportinguistas terão de escolher definitivamente onde se querem colocar. Não me esqueço de no início da temporada ver inúmeros pares de sportinguistas e portistas juntarem-se uns minutos para falar mal do Benfica. Estes namoros, baseados num ódio comum, teriam de acabar mal.

O Benfica pode-se sempre analisar de duas formas. Pode ser da forma saudosista, vendo as glórias passadas e que ao Benfica só servirá a vitória na superliga, na taça e uma final na liga dos campeões. Esta falta de realismo (não há clube nenhum no mundo que tenha estes sucessos todos os anos) levou a decisões precipitadas e de vistas curtas. Ao procurar voltar-se aos velhos tempos só se afundava mais o clube. Por isso, ao invés de se verem todas as épocas como um “tudo ou nada”, melhor estratégia será dar pequenos passos de cada vez.

Convenhamos que a falta de dinheiro tem ajudado o Benfica. Não podendo comprar jogadores a torto e a direito, a equipa foi-se estabilizando. Os jogadores conhecem-se melhor, sentem-se uma equipa, apesar de algumas fragilidades. Camacho, cujo o meu entendimento parco sobre futebol não permite dizer ser um bom treinador ou não, tem conseguido dar uma boa atitude à equipa, não só em cada jogo mas também ao longo dos meses.

A época do Benfica dificilmente poderia ter sido mais azarada, com quase toda a equipa a ficar lesionada, alguns jogadores por muito tempo, a morte de Féher em campo, a perca inacreditável de pontos em alguns jogos por falhas infantis. Se agora estivessem em sexto ou sétimo lugar no campeonato até seria compreensível. Mas com o segundo quase seguro, a final na taça de Portugal e uma campanha europeia razoável, bem podem dizer que o Benfica se aguentou bem. A distância a que ficou do FCP terá de vista lembrando que a temporada nacional do FCP foi quase perfeita.

Ainda sobre o último Sporting-Benfica. Ouvi a primeira parte pela rádio e a segunda pela TV. Aparentemente os sportinguistas teriam razão para se queixar da pouca sorte, devido às várias ocasiões para marcar no início da partida. Pelo mesmo prisma, o Benfica já seria campeão nacional porque em quase todos os jogos tem mais ocasiões para marcar que o adversário. Mas bolas têm é que entrar na baliza. Se forem ao lado, aos postes ou ao alcance do guarda-redes, é porque o remate não foi suficientemente bom. E claro, é preciso saber defender. É por isso que a vitória do FCP não poderá ser contestada, mesmo que, para mim, os jogos do Benfica sejam bastante mais interessantes.



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