quarta-feira, janeiro 26, 2005

O pior concerto a que já assisti

A semana passado fui ver Emir Kusturica & The no Smoking Band. Associava vagamente ao concerto da Koçani Orkester, de ciganos da Macedónia, admirávle a todos os níveis. O clima criado quase levava o público a um transe. Kusturica é um dos responsáveis por ter dado a conhecer, através dos seus filmes, este tipo de música, por isso pesei ir ver algo agradável no Coliseu de Lisboa.

Contudo, não liguei aos sinais de aviso. À entrada, jovens entregavam propaganda do BE e, tal como um gato preto a passar debaixo de escada numa sexta-feira dia 13, devia ter percebido que eram um sinal dos deuses. Antes do início a música de fundo remetia para os sopros que já conhecia, da música especial dos Balcãs, como nenhuma outra parecida. O concerto prometia. Tivemos a boa ideia de subir até à plateia no nível superior e ficar livres da multidão.

O concerto começou, um volume monstruoso de som, adequado a um estado de futebol. Pensei que seria uma abertura para conquistar a juventude. Mas a sequência não foi melhor. Revelou toda a mediocridade dos músicos, que tocavam aquilo que qualquer banda de garagem consegue com 1 ano de prática. Mas para ser honesto, o baterista tinha algum valor. Ele conseguia manter o ritmo não convencional, com influências da música tradicional daqueles locais, e que permitia a juventude saltar por todo o lado.

Mas um bom músico não salva uma orquestra. Mas mais não era necessário, o Coliseu estava ao rubro. É preciso fazer notar que as razões disso em muito se devem às várias drogas que por ali se fumavam. Típicos simpatizantes do bloco, alegres e sem critério. Estão no seu inteiro direito poderem desfrutar destes tristes espectáculos.

Como e óbvio, saímos a meio do concerto. Não conheço a obra de Kusturica como realizador, mas tenho ouvido as melhores referências. Veja os meus filmes, não ouça a música que faço nos tempos livres...




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terça-feira, janeiro 25, 2005

Os palhaços

Junto ao Campo Pequeno, em Lisboa, encontram-se encontram-se 3 cartazes eleitorais. Dois deles, com as figuras de Paulo Portas e de José Sócrates, têm círculos vermelhos adicionados, junto aos narizes. Imediatamente eles nos parecem uns palhaços. A este género de manobras, engraçadinhas, é difícil não associar membros do BE. Preconceitos meus... Ainda por cima, quando o cartaz com Francisco Louça ficou imaculado e não teve direito ao nariz de palhaço.


Mas estarei a ser injusto, talvez não tenham sido simpatizantes do bloco a efectuar tais manobras. Louçã não levou com o nariz de palhaço porque isso seria redundante. Ele já é inegavelmente um palhaço.




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quinta-feira, janeiro 20, 2005

Sobre a beleza

Um certo estudo, divulgados nos jornais, diz que apenas duas em cada 100 mulheres se acha bonita. É ainda referido que as mulheres gostariam que o conceito de beleza fosse mais amplo, incluindo outras características como o caracter, inteligência, entre outras (e assim seria mais democrático...). Daqui também resultaria uma baixa auto-estima, as mulheres bonitas terem mais oportunidades que as outras e serem mais valorizadas pelos homens.

A primeira coisa que me vem à cabeça é a necessidade de fazer estudos destes com conclusões tão banais. Ingenuidade minha, claro. Também estão envolvidas empresas de grande dimensão, cosméticos, sabonetes, produtos de beleza. Uma avaliação mal feita e é a morte do artista.

Tenho reparado que em certas coisas não há coincidências. Em certo tipo de empregos é raríssimo ver uma mulher bela, como se fosse mal empregue a beleza em tais funções. Já em outros empregos parece ser exigido um nível mínimo de beleza. Contudo, são casos excepcionais, não há gente bela o suficiente para preencher todos os locais.

Mas o que é isso de beleza? Em termos puramente físicos parece que há mesmo critérios objectivos para definir o que é um rosto belo, válidos para qualquer cultura, até para bebés. Características relacionadas com a simetria parecem conduzir ao belo, o que terá uma justificação evolutiva. Maior simetria significaria melhores genes, e tudo funciona a partir da matéria base...

Contudo, quando se fala destas coisas sinto que se anda sempre a pisar os degraus do politicamente correcto. É tudo muito asséptico, quase artístico. Porque me diz muito mais o conceito de “mulher atraente” do que “mulher bela”. No entanto, a atracção é coisa perigosa, que assusta. As pessoas gostam de se fingir controladas, que prezam a fidelidade, e em situações institucionais (como no ambiente de trabalho) convém fazer de conta que todos são imunes aos desejos sexuais.

Adensando os mistérios, há a impossibilidade de homens e mulheres se compreenderem a este nível. Por isso se diz que as mulheres se vestem para que outras mulheres as achem atraentes. Os tempos terão mudado, já não será bem assim, mas isso não altera as nossas predisposições genéticas para o auto-engano. Mas porque razão as mulheres se sentem mal com o seu corpo? Porque acham que não são belas ou porque não têm uma vida sexual satisfatória?

Mas a insatisfação virá de destas frustrações de primeiro nível (ligadas a concepções directamente ligas à relação com o próprio corpo e realização de desejos primários) ou a processos mentais mais complexos? Uma mulher que sacrifique prazer para ter poder será que se apercebe de onde lhe vem o desprazer?

Mas voltando à beleza. Parece-me ser um conceito, por natureza, elitista. Falar da sua democratização é o mesmo que falar de um Ferrari por proletário. Não foi o capitalismo que tornou o mundo competitivo. Essa competição já existia desde sempre, em que as armas que cada um podia jogar estavam no que cada um era e conseguia fazer com o próprio corpo.

Entretanto, racionalizamos o desejo e criamos desejos de segunda ordem. Os desejos que a nossa natureza nos forneceu, de apalpar, penetrar, mordiscar, lember... tornaram-se impuros, coisas a esconder. Os desejos artificiais, do amor romântico, paixões doentias, vidas em comum para todo o sempre, tornaram-se em objectivos a alcançar, as realizações de uma vida plena e feliz. Quer-se fazer omeletes com ovos sem gema. Ou então fazer crer que a única razão de existir das gemas é fazerem omeletes
Mas é apenas uma fuga para a frente. O sentido último de cada gesto não é dado pelo contexto em que se insere (é apenas um condimento). Cada acção vale por si. Apenas com acções plenas (e com o esquecimento do eu) se pode construir algo sólido. Mas mais importante, apenas o gesto com todo o empenho do Ser transcende todas as necessidades e amarras.




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segunda-feira, janeiro 17, 2005

O interesse pelas coisas

Há umas semanas atrás era uma ideia popular todos votarmos para as eleições americanas. Nunca tinha existido tanto interesse pelo evento. Não é difícil de explicar. Todo o mandato de Bush, especialmente depois do 11 de Setembro, foi bastante atribulado. Os debates sucederam-se, especialmente por meios electrónicos. Informação e desinformação competiam, quase sempre esta última prevalecendo. Posições acirradas, discussões de surdos, certezas a mais, análises a menos. Os temas eram complicados, muita coisa em questão. Poder, guerra, segurança, terrorismo, imperialismo, ideologias, invejas, incertezas, fim das civilizações e o seu confronto, a força das ilusões.

Portanto, com tanta coisa em causa e tanta mediatização não foi estranho tanto interesse pelas eleições americanas. Contudo, apenas umas semanas mais tarde, o interesse por estas questões parece ter ficado reduzido a nada. Falo também por mim, que acompanhei de perto os eventos. Actualmente continuo a receber o “Washington Post” diariamente por mail, mas depois das eleições, pura e simplesmente deixou-me de interessar.

Mas o mesmo se podia dizer de mil e um acontecimentos e que se nos varrem da memória com uma facilidade impressionante. Quanto tempo demorará até a memória do tsunami fazer apenas parte daqueles que directamente estiveram envolvidos? E o Euro 2004, parece que já foi há tanto tempo. E quando foram mesmo aquelas chuvadas torrenciais em Moçambique? E Timor, que semanas a fio abria os telejornais, por vezes mais de meia hora seguida, e agora voltou ao esquecimento. E tantas outras coisas que poderia dizer e outras que já não podia porque de facto já delas não me recordo mesmo.


Aquilo que causa a glória é também muitas vezes o que nos faz cair em desgraça. Ou dito de outra forma, aquilo que nos salva também pode ser a nossa perdição. Porque as civilizações não podiam sobreviver muito tempo se vivessem apegadas a acontecimentos traumáticos. Há que seguir em frente, sabemos isso. Contudo, esse mesmo esquecimento é o que tira toda a validade à História. Não apreendemos anda, por mais que possamos aprender com o passado. É por isso que todas as grandes catástrofes não naturais pelas quais a humanidade passou não foram impedidas, apesar de existirem sinais evidentes do que iria acontecer.



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quarta-feira, janeiro 12, 2005

Ameaçado

É um mistério ainda estar vivo e gozar de relativa saúde. Porque a toda a hora recebo mails sobre os mais variados assuntos, que no final contêm um importante aviso. Em geral é referido que aquele mail já deu várias vezes a volta ao mundo e é essencial que eu o envie para um determinado número de pessoas (7, 10). Se não o fizer, uma terrível maldição cairá sobre mim dentro de 4 dias, caso contrário, terei a felicidade eterna. Nunca reenviei nenhum desses mails e também nunca notei que me tivesse acontecido algo de especial.

Era curioso saber a quantidade de pessoas que realmente temem estas ameaças. Claro que muitos fazem o reenvio porque é o que costumam fazer com tudo o que lhes aparece. Mas será que há assim tantas pessoas que se apressam a arranjar endereços de mail para não caírem em desgraça? Temo que sim, mesmo que nunca o admitam.



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segunda-feira, janeiro 10, 2005

Surto de loucura

Nos últimos meses tenho reparado, cada vez com mais intensidade, que as pessoas me parecem estar com comportamentos dementes. Não que seja algo demasiado óbvio, não vi nenhuma explosão de comportamentos bizarros e perigosos. Refiro-me antes à multiplicação de raciocínios sem pés nem cabeça, um pouco por todo o lado, e também nos relacionamentos entre pessoas em que se perdem as maneiras com muita facilidade e se passa ao insulto e se volta à normalidade como se nada tivesse acontecido.

Podem dizer que tenho andado desatento, que isto sempre foi assim, as pessoas têm defeitos e virtudes e apenas sofro de ingenuidade. Ou ainda que nada disto é correcto, nada de anormal se passa. Bem sei dos riscos de nos iludirmos e pensarmos sermos os únicos do pelotão a marchar direito, por isso tenho indagado várias pessoas para saber se têm sentido o mesmo. Com alguma surpresa minha, dizem-me que sim, que acham o mesmo.

Contudo, ter razão num caso como este não me deixa nada descansado. Não confondo momentos de non sense, que considero saudáveis, com a perda do sentido das coisas e dos limites. Nem consigo dar explicações racionais sobre algo que tem no irracional o seu cerne. Por isso, não vou adiantar muito sobre esta questão. Se alguém conseguir dar uma luz, não se faça rogado...



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sexta-feira, janeiro 07, 2005

Tsunami e as várias ajudas

Acho conveniente distinguir entre duas facetas das ajudas às vítimas do tsnunami. Em primeiro lugar, há a ajuda que é necessária para o auxílio imediato, das pessoas que num ápice ficaram sem nada e, por fome ou doença, teriam uma forte possibilidade de encontrar a morte. Depois, há uma segunda fase, de ajuda à reconstrução e talvez até de providenciar de condições que até aí não existiam.

Se a primeira parte da ajuda me parece essencial e bem vinda, já em relação à segunda pode ser perigosa e contraproducente. Há vários riscos, todos associados ao dinheiro fácil. Começa logo por esse dinheiro fácil ser um forte chamariz para os governos locais, bem como todo o tipo de gente corrupta que terá uma imaginação fértil para levar o “seu” quinhão. Não é só a chatice do dinheiro não ir para quem de facto necessita, é algo mais profundo que isso.

A real gravidade de uma injecção maciça de dinheiro é que ajuda a destruir as condições que levam ao desenvolvimento. Um governo que se habitue ao dinheiro fácil tende a crescer, a ficar burocrático, corrupto. E mesmo que o dinheiro vá para as pessoas que de facto necessitem, mais não passa de um presente envenenado. Vai diminuir as pessoas na sua vontade e na sua independência.

Contudo, numa situação como esta de catástrofe, haverá que saber que distinguir a fronteira entre o útil e o prejudicial, o que não é fácil. Alguma ajuda deverá ser dada também à reconstrução, porque se trata de uma situação de excepção. Mas até que ponto, para que não se torne prejudicial? Não o sei dizer, até porque dependerá de caso para caso e as situações serão muito diferentes. Entretanto as pessoas vão ajudando, bastante alheadas destas questões. A humanidade conterá em si forças de criação, destruição e regeneração que vão para além da vontade de grupos isolados.




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segunda-feira, janeiro 03, 2005

O que espero de 2005

O que podia esperar para 2005 não teria sentido estar aqui a relatar, num espaço que se quer predominantemente impessoal. Estamos na altura dos lugares comuns, em que se pede paz e amor para todos, como se um sentimento de amizade fraternal invadisse o planeta. Aderindo ao politicamente correcto, faço aqui os meus votos para o novo ano.

Então o que eu espero de 2005 é que as pessoas não esperem tanto como nos anos anteriores. Que não esperem no sentido de ficar parados, nem esperem no sentido de acharem que há sempre um salvador vindo de fora.




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