quinta-feira, agosto 25, 2005

Ignorância contra todos

O concurso “Um Contra Todos” é um bom barómetro para avaliar o nível de cultura dos portugueses. Sendo este um concurso de cultura geral, parto do princípio que quem concorre acha-se minimamente capaz. Num destes dias uma das sessões foi particularmente sugestiva. Não foi preciso a duração completa de um programa para todos os concorrentes serem eliminados. A própria concorrente principal não sabia que os franceses tinham rejeitado o tratado constitucional, nem qual era a auto-biografia de Gabriel Garcia Marquez (GGM).

Saber da rejeição francesa à Europa, para ser simplista, é apenas estar atento ao mínimo do que se passa nas notícias. Dias a fio o acontecimento foi mencionado, reforçado pela posterior rejeição holandesa e ainda, em termos nacionais, com a discussão se deveria ser mantido o referendo. Em relação à outra pergunta, os concorrentes sabem que um dos itens é precisamente o de literatura estrangeira. GGM não é um autor desconhecido e os seus livros são uma constante nas livrarias. A sua auto-biografia (que cheguei a comentar neste blog) foi um acontecimento muito divulgado e as livrarias encheram as montras (nem sequer era preciso entrar lá dentro). Mas não só, também nos hipermercados podia-se encontrar o livro. E os concorrentes foram eliminados com perguntas assim…

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quarta-feira, agosto 17, 2005

Picuinhas

Às vezes sou picuinhas, admito. Mas esta que vou contar já me anda a remoer o juízo há uma data de tempo. A publicidade ao euromilhões tem uma frase final do género “Euromilhões, a criar excêntricos todas as semanas.” Mas como podem eles fazer esta publicidade enganosa quando o prémio principal só sai de 2 em 2 meses?

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terça-feira, agosto 16, 2005

Solidão


Gerês, Novembro de 2004, Mário Chainho.


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terça-feira, agosto 09, 2005

O casal de feios

Ele era alto, muito magro. As pernas tortas sugeriam continuamente aos pés que se virassem para fora. A cabeça pequena tinha uma cara larga demais e a coluna encurvada projectava uma sombra disforme. Ela era baixa e ainda mais parecia por ser anafada. Os olhos rasgados não lhe davam qualquer toque exótico mas apenas faziam lembrar um leitão. Apesar de redonda, tinha poucas curvas femininas. A sua amplidão de gestos era tão pequena que parecia atada por dentro.

Eram feios, sem dúvida, mas amavam-se. Falavam de tudo e de nada horas sem fim e no brilho dos olhos viam a beleza que o outro, afinal, possuía.

Num fim de tarde foram passear junto ao mar, sempre de mãos dadas. Deleitavam-se com a brisa suave e com o sentir da presença do outro, numa cumplicidade inexplicável. Um casal belo passa por eles. «Viste aquele casal de feios?», disse a mulher bonita do casal belo. «Fala baixo», disse o homem bonito do casal belo e acrescenta: «Mas estão bem um para o outro.»

O casal de feios ouve em silêncio e a imagem do casal belo invade-lhes o espírito. Continuam a falar como se nada tivesse passado. De repente, a brisa que lhes parecia divina fica agreste. «Está frio», disse ele. «Sim», anuiu ela. Sem se aperceberem, separam as mãos e decidem ir a um bar próximo. Enquanto ele pedia algo ao empregado de mesa, ela olhou para ele como nunca tinha olhado. Já não lhe via qualquer brilho nos olhos, apenas algo baço e sem vida. A coluna torta e a voz gutural dele pareceram-lhe, então, hediondas. Beberam o que sempre bebiam, sem falar. Ela levantou-se para ir à casa de banho. Ele olhou para ela já sem encanto, apercebendo-se do andar cilíndrico. Reparou nos seus cabelos lisos que em movimento escondiam e desvendavam o rosto feio dela.

Na casa de banho ela chorou e percebeu que lhe era impossível voltar para junto dele. Fugiu pelos fundos sem destino certo. Ele imaginava como poderia olhar para ela sem lhe mostrar desprezo e fugiu também. Passaram meses, passaram anos e não se viram. Um dia, ele decidiu voltar àquele local onde se tinham cruzado com o casal belo e lhes provocara a imagem que nunca mais lhes saíra da mente. Sem surpresa, ela lá estava também e o casal de feios juntou-se outra vez. Não se procuravam, mas queriam ver mais uma vez o casal belo que provocara a sua separação e consequente infelicidade total. O casal belo não apareceu e ao casal de feios apenas restou voltar a dar a mão mais uma vez. E caminharam mar adentro, onde perderam a vida num último beijo.

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terça-feira, agosto 02, 2005

Orgulho nacional

Um jornal inglês considerou o nosso IP5 a segunda via mais perigosa no mundo, só superada por uma estrada qualquer perdida nas montanhas da Bolívia. Por uma estranha razão começo a pensar que temos um certo orgulho por estarmos tantas vezes mal classificados em diversos itens. O facto de não fazermos nada para sairmos do lugar onde estamos parece confirmar isso.

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