segunda-feira, setembro 12, 2005

A opção

Sempre me intrigaram as razões de tantas pessoas darem relevância a ideias erradas. Falo daquelas ideias que, sem grande esforço, podem-se mostrar que são falsas. Em alguns casos é fácil explicar esta opção pelo erro, quando as ideias são veiculadas por intensa propaganda ideológica ou religiosa (a diferença é pouca). As pessoas crescem com estas ideias, as quais, como a paisagem, não se discutem. Ou então, são ideias que se inculcam num determinado momento crítico, sob forte coerção a que poucos resistem para não serem marginalizados.

Contudo, mesmo quem vive em maior liberdade prefere tantas vezes o caminho fácil das ideias úteis mas falsas. Hoje em dia continuam a existir pressões e quem quer integrar determinado grupo, por prestígio, para fugir à solidão, porque é excitante, tem muitas vezes que abdicar de parte da verdade, para poder inculcar novos valores. Muitas pessoas desdobram-se em duas, com personalidades completamente distintas dentro e fora do grupo (pensemos em certos adeptos de futebol ou em grupos ideológicos).

Mais assustador é perceber que muitos escolhem o caminho das ideias falsas e nem se percebe bem porquê. Não são apenas indivíduos de fraco intelecto ou marcados por algum acontecimento. São pessoas comuns, as mais comuns, ao que parece. Têm um fascínio inexplicável por tudo o que seja absurdo, desde teorias da conspiração a esoterismos parvos. Acham que a verdade está escondida das massas e apenas eles, que tiveram a sorte de descobrir um determinado guru, se podem juntar ao grupo dos eleitos que sabem explicar o mundo, a vida e a morte.
Se bem que cada um tenha toda a liberdade de ser um idiota, criam-se conflitos quando essa idiotice quer-se impor aos restantes. Não vale a pena tentar argumentar com estas pessoas. Podem reagir de forma trágica, como se lhes estivessemos a roubar algo importante, tentando-nos fazer sentir culpados pelos nossos pecados. Ou então reagem com uma ironia, típica de quem é “superior”. Por meias palavras dão-nos a entender que somos uns mediocres, por utilizarmos essa coisa ridícula que é a lógica. Analisam as nossas motivações, porque de certo haverão algumas e serão bem tenebrosas para descermos ao ponto de raciocinar baseados nos factos e no encadeamento lógico dos pensamentos.