O casal de feios
Ele era alto, muito magro. As pernas tortas sugeriam continuamente aos pés que se virassem para fora. A cabeça pequena tinha uma cara larga demais e a coluna encurvada projectava uma sombra disforme. Ela era baixa e ainda mais parecia por ser anafada. Os olhos rasgados não lhe davam qualquer toque exótico mas apenas faziam lembrar um leitão. Apesar de redonda, tinha poucas curvas femininas. A sua amplidão de gestos era tão pequena que parecia atada por dentro.
Eram feios, sem dúvida, mas amavam-se. Falavam de tudo e de nada horas sem fim e no brilho dos olhos viam a beleza que o outro, afinal, possuía.
Num fim de tarde foram passear junto ao mar, sempre de mãos dadas. Deleitavam-se com a brisa suave e com o sentir da presença do outro, numa cumplicidade inexplicável. Um casal belo passa por eles. «Viste aquele casal de feios?», disse a mulher bonita do casal belo. «Fala baixo», disse o homem bonito do casal belo e acrescenta: «Mas estão bem um para o outro.»
O casal de feios ouve em silêncio e a imagem do casal belo invade-lhes o espírito. Continuam a falar como se nada tivesse passado. De repente, a brisa que lhes parecia divina fica agreste. «Está frio», disse ele. «Sim», anuiu ela. Sem se aperceberem, separam as mãos e decidem ir a um bar próximo. Enquanto ele pedia algo ao empregado de mesa, ela olhou para ele como nunca tinha olhado. Já não lhe via qualquer brilho nos olhos, apenas algo baço e sem vida. A coluna torta e a voz gutural dele pareceram-lhe, então, hediondas. Beberam o que sempre bebiam, sem falar. Ela levantou-se para ir à casa de banho. Ele olhou para ela já sem encanto, apercebendo-se do andar cilíndrico. Reparou nos seus cabelos lisos que em movimento escondiam e desvendavam o rosto feio dela.
Na casa de banho ela chorou e percebeu que lhe era impossível voltar para junto dele. Fugiu pelos fundos sem destino certo. Ele imaginava como poderia olhar para ela sem lhe mostrar desprezo e fugiu também. Passaram meses, passaram anos e não se viram. Um dia, ele decidiu voltar àquele local onde se tinham cruzado com o casal belo e lhes provocara a imagem que nunca mais lhes saíra da mente. Sem surpresa, ela lá estava também e o casal de feios juntou-se outra vez. Não se procuravam, mas queriam ver mais uma vez o casal belo que provocara a sua separação e consequente infelicidade total. O casal belo não apareceu e ao casal de feios apenas restou voltar a dar a mão mais uma vez. E caminharam mar adentro, onde perderam a vida num último beijo.
Eram feios, sem dúvida, mas amavam-se. Falavam de tudo e de nada horas sem fim e no brilho dos olhos viam a beleza que o outro, afinal, possuía.
Num fim de tarde foram passear junto ao mar, sempre de mãos dadas. Deleitavam-se com a brisa suave e com o sentir da presença do outro, numa cumplicidade inexplicável. Um casal belo passa por eles. «Viste aquele casal de feios?», disse a mulher bonita do casal belo. «Fala baixo», disse o homem bonito do casal belo e acrescenta: «Mas estão bem um para o outro.»
O casal de feios ouve em silêncio e a imagem do casal belo invade-lhes o espírito. Continuam a falar como se nada tivesse passado. De repente, a brisa que lhes parecia divina fica agreste. «Está frio», disse ele. «Sim», anuiu ela. Sem se aperceberem, separam as mãos e decidem ir a um bar próximo. Enquanto ele pedia algo ao empregado de mesa, ela olhou para ele como nunca tinha olhado. Já não lhe via qualquer brilho nos olhos, apenas algo baço e sem vida. A coluna torta e a voz gutural dele pareceram-lhe, então, hediondas. Beberam o que sempre bebiam, sem falar. Ela levantou-se para ir à casa de banho. Ele olhou para ela já sem encanto, apercebendo-se do andar cilíndrico. Reparou nos seus cabelos lisos que em movimento escondiam e desvendavam o rosto feio dela.
Na casa de banho ela chorou e percebeu que lhe era impossível voltar para junto dele. Fugiu pelos fundos sem destino certo. Ele imaginava como poderia olhar para ela sem lhe mostrar desprezo e fugiu também. Passaram meses, passaram anos e não se viram. Um dia, ele decidiu voltar àquele local onde se tinham cruzado com o casal belo e lhes provocara a imagem que nunca mais lhes saíra da mente. Sem surpresa, ela lá estava também e o casal de feios juntou-se outra vez. Não se procuravam, mas queriam ver mais uma vez o casal belo que provocara a sua separação e consequente infelicidade total. O casal belo não apareceu e ao casal de feios apenas restou voltar a dar a mão mais uma vez. E caminharam mar adentro, onde perderam a vida num último beijo.
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