sexta-feira, setembro 02, 2005

Furacão Katrina - Tragédia e terapia

As notícias sobre a devastação provocada pelo furacão Katrina nos media nacionais são a confirmação de que o burgesso é o modelo nacional. Era previsível, sim. Vejo cada peça como um exercício de anti-americanismo, sem precisar de fazer grande esforço. É certo que a alegria não foi tanta como no 11 de Setembro (há quem tenha testemunhado a abertura de garrafas de champanhe, na altura, por professores universitários, naturalmente em universidades públicas…), e basta ver as imagens dos locais afectados para saber que não foi um dos ícones do capitalismo que foi afectado, mas sim uma região já de si pobre em relação aos padrões americanos.

Resta fingir compaixão pelos afectados, e o facto de muitos deles serem negros ajuda nesta comoção paternalista. Mas claro que tudo isto são apartes, porque o fundamental é mostrar todas as fragilidades do modelo americano (seja lá o que isso for) e naturalmente assacar as responsabilidades ao presidente idiota. É um consenso nacional, a começar pelo nosso Messias dos consensos, o presidente Sampaio, que mandou uma mensagem ao seu homólogo americano, naturalmente mostrando pesar, mas com um inevitável puxão de orelhas, como quem diz: «Vocês americanos não aprendem nada. Acham-se os maiores e agora estão aí com o rabinho entre as pernas.»

Percebo que neste momento seja de especial urgência para os nossos jornalistas e comentadores mostrar todo o mal que está a acontecer, as coisas inimagináveis que só nos países de terceiro mundo, a falta de ajuda, etc. Têm que ser rápidos, porque daqui a uns dias tudo aquilo que dizem pode já não fazer sentido. É agora a oportunidade de ridiculizarem os EUA (e como isso faz bem alma!) com a vantagem de mostrar ainda solidariedade (intelectual) pelas vítimas. Claro que ninguém comete a imprudência de supor o que teria acontecido se tivesse sido na Europa.