quinta-feira, setembro 18, 2003

A heresia de falar sobre o Big Brother (2)


No post anterior sobre este assunto teci algumas considerações gerais sobre o Big Brother (BB) em geral e sobre a primeira edição, em especial. Vou alargar-me um pouco até ao momento actual.

A segunda e terceira edições registaram um interesse menor por parte do público. Foi fácil esquecer quem foram os concorrentes e até mesmo os vencedores das edições. A movimentação social em redor do programa diminuiu bastante em relação à primeira edição. O BB já não era o principal tema de conversa nos cafés, era só mais uma coisa sobre o que falar, a novidade já não existia, os concorrentes pareciam não ter o mesmo “carisma” dos anteriores, pareciam jogar a toda a hora, fúteis, sem chama. Era esta a visão de muitas pessoas, um pouco desiludidas com o BB.

Por outro lado, o número de concorrentes potenciais não parou de aumentar. Parecia que todos os jovens de Portugal queriam ir para dentro da casa, adquirir fama e passar pela experiência. E todos já sabiam o que iam passar, já tinham visto as edições anteriores e pensado no que fariam se estivessem lá dentro. Mas a frase que os participantes mais dizem é: «Só quem está lá dentro é que sabe.»

Ainda existiu um degradante BB dos famosos. Os concorrentes eram pessoas habituadas a fingir, a serem cínicas para as câmaras, com uma grande facilidade de jogarem com os outros e, para mim, bastante menos interessantes que as pessoas comuns. Teresa Guilherme ajudou à mediocridade do programa, com a uma prestação débil e comprometida.

O quarto e actual BB prometia ser a confirmação de uma morte lenta para o programa. Mas o BB apareceu diferente em algumas coisas, começando pela escolha dos participantes. Houve a clara opção de que fossem todos jovens e, especialmente nas mulheres, atraentes. “Eles iriam mostrar tudo”, sugerindo que iríamos ter as mais escaldantes cenas de sexo em horário nobre. E assim parecia, quando se formaram logo nos primeiros dias dois casais e outros pareciam encaminhados. Mas depois pareceram acalmar, e o BB parece entrar num rumo em certos aspectos semelhante aos anteriores.

As regras também mudaram, com a nomeação de um líder que nomeia alguém para sair e que fica incólume às nomeações. Mais um motivo de tensão, mas que terá de ser visto com ponderação, porque outras coisas menos aparatosas foram alteradas mas que poderão ter uma grande influência. O programa parece ter sido adaptado para que os concorrentes façam noitadas consecutivas e que o tal clima especial aconteça. As privações e regimes duros de outros BB parecem ter sido atenuadas. O álcool está disponível, os participantes são acordados mais tarde e não são sujeitos a duras provas físicas.

Actualmente a TVI utiliza o BB como joker na sua programação. Tenta obrigar-nos a assistir a todos os seus programas deprimentes, com várias edições do BB a horas inesperadas. Há que resistir a este assediamento. Repetindo o que já tinha dito, com todos os defeitos que o BB possa ter e certamente os tem, é infinitamente melhor que qualquer telejornal, telenovela ou série da TVI.

Gostaria ainda de voltar a este tema para falar de outros aspectos, em especial da noção que os participantes têm que o mundo é apenas aquela casa. Também gostaria de falar de alguns concorrentes, especialmente da Lara, que me parece ser uma mulher que suscita a dúvida sobre o que é a ética feminina – porque ela é simultaneamente a concorrente mais bela que apareceu em todos os BB e aquela que aparenta ter mais nível. Existe um colorido interessante com vários sotaques disponíveis, e gostaria ainda de falar do BB por dentro, na medida do possível.