terça-feira, agosto 19, 2003

A dignidade sobrevive ao fogo


Após todo o sensacionalismo e fala de senso posto pelos nossos jornalistas ao falarem dos fogos, a última coisa que queria era acrescentar algo sobre o assunto. Mas houve uma reportagem que me fez mudar de ideias. Um homem perdeu não só os seus bens mas também a mulher no fogo, não sei bem onde aconteceu porque não acompanhei desde o início. O que me impressionou foi a dignidade da pessoa, notoriamente sofrida, mantinha a contenção. Não pedia nada, descrevia o que tinha acontecido, não gritava palavras como inferno, catástrofe, horror... O jornalista ainda deu a entender, no comentário final, que o homem estaria mentalmente perturbado, por não estar a chorar. Para mim, pareceu-me perfeitamente lúcido, realista quanto ao futuro, ele e mais dois filhos, e como não deveriam sobrecarregar a filha com trabalho.
O jornalista não viu a dignidade da pessoa. Será que isso não lhe interessava?