quinta-feira, setembro 02, 2004

Jogos Olímpicos

O lema dizia que o importante é participar... para a ganhar... a todo o custo...

Ironias à parte, por as olimpíadas só se realizarem de 4 em 4 anos permite também avaliar alterações em nós mesmos, na nossa percepção, sobretudo. É uma oportunidade única para ver tantas modalidades desportivas. Sempre tive apreço pelas modalidades mais artísticas e acrobáticas, em que os portugueses sempre foram tão débeis. É certo que as acrobacias, que me enchiam o olho nas olimpíadas anteriores, cada vez menos espectaculares me parecem e a minha atenção é chamada por pormenores, como a subtileza e intenção dos gestos.

Mas aqui fico desiludido. Porque em geral os gestos são efectuados de forma rude, sendo apenas decorativos. Alguns ginastas são naturalmente mais graciosos, mas em geral falta alma. Não será de espantar. Algumas modalidades são de tal forma exigentes que os atletas não passam de crianças fisicamente, para que os corpos se moldem para realizar proezas atléticas. Com o objectivo de ganhar algo, deformam-se corpos, que são puxados ao limite, envelhecendo precocemente. A ansiedade da competição, tantas vezes solitária, manifesta-se. Horas sem fim os ginastas praticam para aperfeiçoar os movimentos, guiados por parâmetros avaliativos que mudam regularmente. Nada de realmente fundamental se procura.

Mas o gesto sincero leva décadas a desenvolver, tempo que a competição não dispõe. Um gesto sincero revela o carácter de uma pessoa. Realizar uma acrobacia ou mesmo ganhar uma medalha, não.

Não quero parecer um crítico de tudo o que seja competição, porque ela faz sentido em muitas áreas, sendo até natural. Em geral é com agrado que vejo as mais diversas provas das olimpíadas, tão variadas e que mostram também a riqueza do que é o ser humano e daquilo que pode fazer consigo mesmo e com o mínimo de utensílios. A modalidade que talvez tenha visto com mais agrado foi a natação sincronizada. Começa logo por serem quase as únicas atletas que têm um corpo harmonioso (confesso que aquelas belas pernas me fascinam). O contacto com a água e o trabalho de grupo parecem-me ser benéficos em termos também pessoais. Em geral, são das provas mais ricas em termos artísticos e em que a inclusão de movimentos só para encher é quase nula. Também isto se reflecte naquilo que são as atletas, que mostram menos ansiedade e também um sorriso mais amplo e sincero. Claro que posso estar a ser influenciado devido à minha fraqueza por pernas belas...


Não quis começar a “nova época” com um post bastante sombrio que tenho previsto...