quarta-feira, julho 14, 2004

A necessidade de criar


Há um conhecido provérbio sufi que sugere que, se aquilo que vamos dizer não é mais importante que o silêncio, então não o devemos dizer. O problema com os ditos de sabedoria é que também necessitam de ser vistos com alguma sabedoria, não se limitando a ser meras receitas a cumprir. Na verdade, serve de muito pouco saber de cor as palavras dos mestres. Ninguém fica mais sábio por ler um livro de Paulo Coelho (talvez fique mais confuso e iludido). Porque a sabedoria é uma prática e não um saber intelectual.

Mas porque razão quebramos tantas vezes o precioso silêncio, não lhe acrescentando nada de útil? Escrevo isto depois de ler dezenas de posts sobre a actual situação política, e nem consigo lembrar-me de uma única ideia. Duvido que as verdadeiras motivações estejam voltadas para o exterior. Apesar de sermos educadas para o sucesso exterior, para o reconhecimento público, as motivações são sobretudo internas.

Claro que em última análise tudo volta de novo ao interior. Porque quem procura o reconhecimento público quer senti-lo também de volta, com cartas, mails, abordagens na rua. Mas o acto de quebrar o silêncio ou o branco de uma página, mesmo que virtual, não é tão paciente. Quebramos esse silêncio para colmatar uma necessidade muito mais urgente e que nem chega a sair de nós muitas vezes. Essa é a necessidade de criar, que nos dá estranhas energias, que nos mobiliza frequentemente para uma tarefa sem rumo e sem objectivo.