Manifesto dos desanimados
Hoje em dia alguém pode esperar viver 90 anos e não estar muito longe da verdade. Contudo, a expressão “crise de meia idade” estabeleceu-se numa época em que a esperança de vida não era muito superior aos 70. Considerava-se que um homem de 50 anos estava na meia idade, mas na realidade acabava de entrar no último terço de vida, quando as debilidades se faziam sentir em maior grau e as probabilidade de se poder morrer a qualquer momento incrementavam de forma significativa.
Mas os tempos actuais são diferentes. Agora, as “crises de meia idade” começam logo a surgir por volta dos 30 anos, quando ainda restam dois terços do tempo de vida. Com a disseminação da informação, um jovem adulto em poucos anos desfaz as ilusões de estar a caminho de algo realmente importante. O jovem adulto começa muito cedo o início da sua decrepitude, realçada pela vida agitada que não o deixa saborear convenientemente alguns momentos agradáveis. Muito cedo vê-se a pagar contas e mais contas, algumas que o deixam refém por décadas. Mas se as contas são certas que apareçam, não é certo que a fonte dos rendimentos também o seja. Surge uma sensação de insegurança permanente.
Mesmo quando se têm o privilégio de gozar de alguma abastança, tal configura-se quase sempre como a entrada num labirinto. Procurando caminhos diferentes, na esperança de algum conduzir ao paraíso perdido, repetidamente todos vão dar a becos sem saída. Um novo carro, um novo equipamento de última geração que mais ninguém tem, uma nova amante, uma nova ocupação, tudo coisas que conduzem a alegrias fugazes, mas que vão acumulando um ressentimento contra algo. Algo que não se sabe o que é, porque já não existem instituições em que se acredite e, ao menos, nos possamos revoltar contra.
Muito rapidamente o jovem adulto é encaminhado para o curso natural da vida. Sairá de casa dos país, casará e terá filhos. Cada uma destas fases é sentida como um passo importante, realçada pelo esforço extra, bem como por momentos de sofrimento e a necessidade de assumir responsabilidades. Tudo isto pode fazer o jovem adulto sentir que cresceu e assumiu um lugar importante no mundo. Mas mesmo isto mais tarde ou mais cedo revela-se como ilusório. Porque, apesar de serem marcos importantes na vida de uma pessoa, não conseguem apagar as verdadeiras necessidades interiores, que a pessoa nunca poderá atingir através de outros, por mais importante e íntimos que sejam. O jovem adulto que constituiu família pode refugiar-se neste porto seguro, apesar de quase sempre insatisfatório. Sabe das suas responsabilidades e que outros dependem dele. Sem ele a roda não gira, há um mundo que pára. A sua insatisfação é mitigada pelo stress, cansaço crónico e assunção de responsabilidades.
O jovem adulto que não se tenha dedicado à via natural (casar, ter filhos) quer por não ter podido, quer por mera opção, sofre também de um desencanto sobre o mundo. O desencanto será grande, naturalmente, se a sua situação é forçada e ele vê-se como um falhado que parou no tempo e se limita a sobreviver. Para ele, o tempo parou algures e a parte que nele vive e se degrada a cada dia é como se fosse de outra pessoa, que vive autonomamente. Está pronto para morrer porque sabe que já não vive.
Quem optou por não seguir a via natural pode, aparentemente e durante uns anos, ter uma vida mais compensadora. Este assumir de responsabilidades apenas no ponto mínimo levou-o a ter tempo e recursos para se dedicar a vários projectos de vida alternativos. Este jovem adulto procura a novidade, aquilo que o excita. Como não deve nada a ninguém, em cada dia pode perseguir uma miragem diferente. O mundo agitado em que vivemos propicia que este estilo de vida seja relativamente bem sucedido. Há sempre novos estímulos, novas buscas mesmo ao virar da esquina. Mas, mais tarde ou mais cedo, chega o ponto de saturação, deixam de existir mais novidades. Mesmo coisas nunca experimentadas fazem lembrar algo de que já antes se fez. Num repente, pode surgir a sensação de ter desperdiçado a vida durante anos, porque todas as experiências excitantes podem-se concentrar numa mão vazia. Aí será provável haver a tentação de, finalmente, seguir a via natural, assentar.
Mas os tempos actuais são diferentes. Agora, as “crises de meia idade” começam logo a surgir por volta dos 30 anos, quando ainda restam dois terços do tempo de vida. Com a disseminação da informação, um jovem adulto em poucos anos desfaz as ilusões de estar a caminho de algo realmente importante. O jovem adulto começa muito cedo o início da sua decrepitude, realçada pela vida agitada que não o deixa saborear convenientemente alguns momentos agradáveis. Muito cedo vê-se a pagar contas e mais contas, algumas que o deixam refém por décadas. Mas se as contas são certas que apareçam, não é certo que a fonte dos rendimentos também o seja. Surge uma sensação de insegurança permanente.
Mesmo quando se têm o privilégio de gozar de alguma abastança, tal configura-se quase sempre como a entrada num labirinto. Procurando caminhos diferentes, na esperança de algum conduzir ao paraíso perdido, repetidamente todos vão dar a becos sem saída. Um novo carro, um novo equipamento de última geração que mais ninguém tem, uma nova amante, uma nova ocupação, tudo coisas que conduzem a alegrias fugazes, mas que vão acumulando um ressentimento contra algo. Algo que não se sabe o que é, porque já não existem instituições em que se acredite e, ao menos, nos possamos revoltar contra.
Muito rapidamente o jovem adulto é encaminhado para o curso natural da vida. Sairá de casa dos país, casará e terá filhos. Cada uma destas fases é sentida como um passo importante, realçada pelo esforço extra, bem como por momentos de sofrimento e a necessidade de assumir responsabilidades. Tudo isto pode fazer o jovem adulto sentir que cresceu e assumiu um lugar importante no mundo. Mas mesmo isto mais tarde ou mais cedo revela-se como ilusório. Porque, apesar de serem marcos importantes na vida de uma pessoa, não conseguem apagar as verdadeiras necessidades interiores, que a pessoa nunca poderá atingir através de outros, por mais importante e íntimos que sejam. O jovem adulto que constituiu família pode refugiar-se neste porto seguro, apesar de quase sempre insatisfatório. Sabe das suas responsabilidades e que outros dependem dele. Sem ele a roda não gira, há um mundo que pára. A sua insatisfação é mitigada pelo stress, cansaço crónico e assunção de responsabilidades.
O jovem adulto que não se tenha dedicado à via natural (casar, ter filhos) quer por não ter podido, quer por mera opção, sofre também de um desencanto sobre o mundo. O desencanto será grande, naturalmente, se a sua situação é forçada e ele vê-se como um falhado que parou no tempo e se limita a sobreviver. Para ele, o tempo parou algures e a parte que nele vive e se degrada a cada dia é como se fosse de outra pessoa, que vive autonomamente. Está pronto para morrer porque sabe que já não vive.
Quem optou por não seguir a via natural pode, aparentemente e durante uns anos, ter uma vida mais compensadora. Este assumir de responsabilidades apenas no ponto mínimo levou-o a ter tempo e recursos para se dedicar a vários projectos de vida alternativos. Este jovem adulto procura a novidade, aquilo que o excita. Como não deve nada a ninguém, em cada dia pode perseguir uma miragem diferente. O mundo agitado em que vivemos propicia que este estilo de vida seja relativamente bem sucedido. Há sempre novos estímulos, novas buscas mesmo ao virar da esquina. Mas, mais tarde ou mais cedo, chega o ponto de saturação, deixam de existir mais novidades. Mesmo coisas nunca experimentadas fazem lembrar algo de que já antes se fez. Num repente, pode surgir a sensação de ter desperdiçado a vida durante anos, porque todas as experiências excitantes podem-se concentrar numa mão vazia. Aí será provável haver a tentação de, finalmente, seguir a via natural, assentar.
O jovem adulto, seja qual for o caminho que seguir e mesmo se optar por um sincretismo, parece condenado a envelhecer precocemente. Pode ser tentado em incluir um elemento espiritual na sua vida, mas também este é um caminho onde muito poucos são bem sucedidos. Muitas vezes aquele que procura a espiritualidade só vai embrutecendo a alma sem se aperceber. A vida do jovem adulto não é mais difícil agora. Mas falta-nos aceitar grandes desafios e o querer ser livres.
<< Home