Reality choque
A intelectualidade bem pensante choca-se com os “reality shows”. Eu não. Imagino que isso me exclua logo à partida das elites que têm algo de importante para dizer ao país. Os meus receios em relação a este tipo de programa, de poderem iniciar uma nova era de mediocridade e rebaixamento mediático do ser humano, foram desfeitos em poucos minutos quando vi pela primeira vez o Big Brother 1 nacional. Imediatamente apercebi-me que era apenas mais um programa familiar, na linha Júlio Isidro, mas com um formato que induzia logo uma data de questões e sentimentos fortes.
A grande aceitação popular destes formatos abriu espaço para a intelectualidade definir-se à parte, mostrando repúdio e argumentos morais tidos como válidos. O paternalismo típico dos que se acham superiores aos restantes cegou-lhes a sua já parca capacidade de observação do real, ao não perceberem que nada de fundamental tinha nascido. A estes críticos passava-lhes ao lado a inenarrável ficção nacional e, pior ainda, a fraquíssima qualidade da informação, pela sua falta de rigor e militância propagandística. Estas sim são o grau zero da televisão em Portugal, não uns “reality shows” ingénuos.
Actualmente os “reality shows” viraram-se para o formato gay. É certo que o Carmo e a Trindade têm caído tantas vezes que cada vez o estrondo é menor. É curioso que muitos daqueles que agora identificam nestes formatos o novo patamar mínimo da decência são os mesmos que se manifestavam contra a homofobia. Se pensassem um pouco perceberiam que a aceitação pública destes formatos significa apenas que o preconceito homossexual se reduziu bastante e deveriam considerar isso positivo.
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