segunda-feira, setembro 22, 2003

Fomos falar com os portugueses


Os telejornais estão cada vez mais democráticos. A opinião dos portugueses conta, seja sobre política, economia, futebol, justiça, escandalos vários. Tornou-se hábito os jornalistas irem para a rua saber a “opinião dos portugueses”. Os lugares escolhidos para fazer estes apontamentos de rua não variam muito, quase sempre em Lisboa. Pode ser na Av. 5 de Outubro frente à RTP (o facto de serem sempre jornalistas da RTP é pura coincidência), ou então frente ao Saldanha/Atrium Saldanha e ainda na baixa lisboeta.

Querem-nos fazer acreditar que tudo aquilo é muito espontâneo, e as opiniões que se mostram são um espelho da alma do país. Eu, que frequento estes locias, não os vejo como representativos de Portugal, mas apenas de si mesmos. E nunca tive a sorte de me entrevistarem, porque de certo ia fazer um brilharete com uma resposta fantástica, ao mesmo tempo que espetava uma alfinetadela no jornalista tão sutil que ele só se daria conta depois da peça ir para o ar.

Outra coisa que os jornalistas parecem querer esquecer é que não é possível fazer uma sondagem com 5 opiniões (chamam-lhe de pequena sondagem). A estatística, base de qualquer sondagem, só é válida quando se tem uma amostra significativa e aleatória. Mas para o que se pretende, é perfeito. Porque basta fazer uma reportagem onde consta a opinião de meia dúzia de pessoas, todas dizendo o mesmo mas com umas diferenças de estilo, se possíveis caricatas, e anunciar: «Os portugueses estão contra o aumento do preço dos rolos de papel higiénico. Fomos falar com eles e veja o que disseram...»