quarta-feira, setembro 24, 2003

Tendência não é destino


Quando era mais novo gostava muito de citações e de frases “entre aspas”. E ainda gosto, mas por vezes parece-me que já nenhuma coisa que leia me possa surpreender. Por outro lado, muitas vezes as citações têm pouca aplicação prática, não passando de curiosidades com pouca utilidade na vida diária.

No entanto, ouvi há algum tempo atrás uma citação que me chamou a atenção particularmente: “Tendência não é destino. E quando a sociedade se apercebe que algo está mal, aí começa a mudança”. Ouvi isto na rádio e tenho pena de não ter fixado o nome do autor. Falava-se de arquitectura, em especial no redesenhar das cidades. Mas, um pouco por todo o mundo, o pessimismo domina e as pessoas parecem acomodadas com os problemas para os quais não vêem qualquer solução.

Achei a frase muito bem apanhada e que pode ser aplicada a quase tudo. Aqui há um novo tipo de esperança. Não aquela esperança bacoca, do tipo “Se eu acreditar muito numa coisa ela vai-se realizar”. É uma esperança activa, que diz para nos mexermos e pôr-mos os outros também em movimento. E tudo começa na consciência, que tem de ser de todos e não só de alguns.

Nisto critico alguns “intelectuais” que acham que só eles têm capacidade para perceber as coisas e discutir as possíveis soluções, tornando tudo hermético para o exterior. A solução é exactamente o oposto. Se os intelectuais querem resolver alguma coisa (tenho dúvidas em muitos casos...) o que têm de fazer é tornar as coisas claras para todos, sem serem demagógicos. A consciência dos problemas tem de ser o mais ampla possível, sem nunca se perder o rigor.

Agora, quando penso num problema aparentemente crónico, como a brutalidade dos portugueses ao volante, já não vejo isso com fatalismo. Penso que há uns anos atrás apenas alguns falavam disso e era vulgar muitos se gabarem das atrocidades que cometiam. Hoje já se nota algumas diferenças, a consciência de que conduzimos mal vai aumentando. A mudança já começou.