sexta-feira, setembro 17, 2004

Um tal de José Castelo Branco

Estava parado num sinal vermelho, como peão, frente a um quiosque. Uma das minhas olhadelas apanhou um tal de José Castelo Branco (JCB) em destaque, pelo que percebi dado como garantido num programa da TVI onde se vai expor amplamente. É difícil de explicar o fascínio que o povo tem pelas aberrações. Mas JCB sabe que ser uma aberração é uma coisa relativa. Em Nova York JCB não causaria nenhum furor, porque lá facilmente se encontram milhares de pessoas com uma estética tão ou mais alternativa que a sua.

Por isso, JCB decidiu mostrar-se em Portugal porque sabe que aqui é visto como uma aberração. Mas não sejamos tão simplistas porque há mais vertentes a considerar. JCB sabe que muitos pais de família, barbudos e barrigudos, com a família ao lado, vão estar no sofá a insultá-lo (“Mariconço”, “Se pudesse acabava com a tua raça”, etc.) mas secretamente fantasiam estar em delícias eróticas com ele. Da mesma forma, muitas esposas honradas gostariam de testar a verdadeira identidade de JCB. E JCB também sabe que deixa muitos parolos confusos por falar de coisas que eles não entendem, palavras “em estrangeiro”, usar jóias que lhes causam inveja, fazer gestos diferentes, e ter uma pose fria e alheada de uma pretensa superioridade. Em suma, JCB sente-se invejado e desejado por um público que o finge repudiar.
O que JCB talvez desconheça é que na realidade não é aberração nenhuma. Os seus gestos, gostos, comportamentos são tão vazios de essência como os praticados por qualquer pessoa. Por muito que lhe custe, José Castelo Branco é tão humano como qualquer um de nós.