Licença para mentir
Um dos fenómenos que mais surpreende-me nas sociedades modernas é a complacência que gozam os meios de comunicação social. Seja qual for o assunto, ele é abordado pelo jornalista sem a preocupação do mínimo rigor e, sempre que possível, utilizando falácias úteis, que permitem agarrar o leitor/espectador. Em qualquer amostra de um telejornal, facilmente apanhamos todo o tipo de contradições. E mentir é sempre um estilo a utilizar quando a verdade não é suficientemente estimulante.
As estatísticas mostram que os jornalistas são das pessoas que gozam de mais credibilidade geral. Os factos estão em flagrante contradição com esta avaliação tão positiva. De certa forma, é como se o jornalista fosse alguém que estivesse autorizado a mentir. E não apenas a mentir, também a fazer propaganda, a humilhar, a denegrir. Parece existir um acordo tácito entre a sociedade e os media, em que o jornalismo ao invés de ser uma forma de informação, passa a ser uma forma de expiar ódios e preconceitos. Afinal, o que faz a maior parte das pessoas com a informação que obtém? A primeira coisa é tornar os factos (se é que ainda são factos) em meras opiniões facciosas. Quantas vezes já nos atiraram à cara atoardas com a desculpa de que “vem nos jornais”?
Conduz esta actuação a uma distorção social, em que cada um é encorajado a dar azo à realização das suas ilusões. Que tal seja feito a nível individual, ninguém tem nada a ver com isso. Contudo, o que se encoraja é uma espécie de esquizofrenia global. Sob o pretexto de gozarem do direito a exprimirem-se livremente, os meios de comunicação acabam por atropelar diversas liberdades individuais e colectivas. A libertação não está na censura, obviamente, mas irmos ficando independentes dos media tradicionais e utilizar formas mais livres de comunicação. Nesse contexto, os blogs poderão fazer história um dia.
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