sexta-feira, outubro 28, 2005

De ética percebo eu!

Os juízes também fizeram greve. Insistem que não teve nada a ver com a perda de regalias mas sim com ataques à independência ao orgão de soberania do qual fazem parte, desrespeito.pelos tribunais e pelos magistrados, etc. Em relação à quebra de indepenência dos tribunais, a ocorrer, seria uma violação gravíssima do estado de direito. Não vi até agora explicação por parte dos juizes que justifiquem estas acusações, certamente por suas excelências acharem-se tão acima da plebe que não perderão tempo com estes pormenores. E se fosse verdade, imagino que muitos sectores da sociedade já teram feito coro em relação a este suposto abuso.

Em relação à forma indigna como os juizes têm sido tratados, o desrespeito constante pelos tribunais, acho curioso que a classe só tenha mostrado uma repulsa tão veemente pelo estado de coisas na precisa altura em que são ameaçados de lhes serem retirados alguns direitos. Certamente daquelas coincidências inexplicáveis que só acontecem uma vez na vida. Se não fossem pessoas tão impolutas, diria que a greve destina-se apenas a espernear contra perda de direitos que têm, e o resto são desculpas sem nexo.

Perguntaram ainda a um juiz (sindicalista?) se não achava que uma greve dos juizes pouco ética, porque se trata de um órgão de soberania. Com um sorriso irónico, sua eminência judicial disse algo do género: «Sobre ética, os juízes não têm de aprender nada com ninguém.» Quer este senhor dizer que um indivíduo por ser juiz imediatamente fica emanado de um conhecimento excelso da doutrina ética, a qual cumpre sem mácula. Certamente que a toga que suas altezas usam lhes confere propriedades mágicas que não estão acessíveis ao resto dos mortais, e lhes dê um estatuto ético que nenhum de nós pode aspirar.