terça-feira, dezembro 06, 2005

Porque razão sou cristão, ateu e budista

Nos tempos que correm começa a ser difícil fazer a distinção entre católicos e não católicos. Não me refiro à cristandade em geral porque penso apenas no caso português. Agora dizem-nos que não há essa coisa de “católico não-praticante”. Muito bem, isso quererá dizer que vão deixar de nos dizer que 80% dos portugueses são católicos mas sim apenas 15% (números atirados para o ar sem grandes preocupações de rigor)? O argumento da esmagadora maioria dos portugueses serem cristãos é utilizado para defender a deferência que se dá a esta igreja e relações priviligiadas com o Estado. Mas é curioso que algumas pessoas que defendem este tipo de argumentação, quando confrontadas com a tibieza de costumes do católico típico, dizem-nos que isso não é cristianismo a sério, que em Portugal é apenas apanágio de uma reduzida elite.

Talvez para não serem confundidos com os católicos não praticantes, nota-se um incremento dos ateus militantes. É curioso que estas vozes “corajosas” só apareçam em força quando a liberdade de expressão já é um dado adquirido e, mais que isso, o alvo das suas atenções, a ICAR, se encontra debilitada. Numa altura em que a maioria das pessoas tem vergonha de dizer “Até amanhã, se Deus quiser”, ser ateu militante é mais uma prova de arrogância do que de outra coisa qualquer. Percebo que os fracos, incapazes de criar os seus próprios valores, se entreguem facilmente a uma seita anti-qualquer coisa (anti-cristianismo, anti-capitalismo, anti-globalização, anti-americanismo, etc.).

Na última “National Geografic” há um artigo sobre a disseminação do budismo no ocidente. Ou melhor, daquilo que os ocidentais pensam ser o budismo. Alguns pensam que o sucesso que o budismo vem tendo se deve à falhas do cristianismo. O cristianismo exige uma crença, é austero, tem proibições. O budismo não exige crenças, fala de compaixão, não tem noção de pecado. Mas isto é apenas parte da coisa. Pobres iludidos os que pensam que ser budista é recitar uns sutras, vestir uns hábitos orientais e falar em compaixão. Pensam ainda que o budismo lhes pede o afastamento do mundo, leva a negar a sociedade moderna, reforça a adesão às causas pacifistas, etc. O budismo nunca sobreviveria 2500 anos com estas fórmulas facilististas e para ser realmente compreendido exige uma prática bastante dura. O que o ocidente irá perceber é que se levar o budismo realmente a sério irá redescobrir também a sua herança cristã.