segunda-feira, janeiro 16, 2006

Fuga para a realidade

Não deixo de ficar chocado com a quantidade de animais mortos nas estradas. Nunca me aconteceu matar um animal ao volante e penso que um dia tal poderá ser inevitável. Contudo, por vezes penso que boa parte dos animais mortos podia ter sido evitada se os condutores não tivessem tanta alienação à flor da pele.

Há duas coisas que me fazem sentir uma separação enorme do meu semelhante. Por um lado, são as opiniões políticas, quando o intelecto justifica todo o ódio e irracionalidade em nome de um valor que me escapa, porque não o vejo concretizar-se e, não raras vezes, vejo o seu oposto materializar-se. Mas também conduzir na estrada, onde imagino boa parte dos condutores como meros assassinos.

As ideias de um amor universal e de uma visão não dual, onde não nos sentimos separados daquilo que nos rodeia, parecem-me cada vez mais extraordinárias por se afastarem tanto do que nos dita o senso comum. O amor aos que nos estão mais próximos ainda reforça mais a sensação de termos de nos proteger face aos que não estão tão próximos.

Mas as relações sociais têm alcances insuspeitáveis à primeira vista. Retirando todos os indesejáveis da nossa frente era bem possível que muito do que gostamos de desfrutar também desaparecesse. O único retiro verdadeiro a que temos acesso encontra-se no silêncio da imobilidade.