Racismo à portuguesa
Há poucos dias passava na rua e cruzei-me com duas raparigas, aparentemente chinesas. Falavam animadamente e começaram a rir de forma um pouco sonora. Um bom português, com seu bigode e barriga avantajada, que se encontrava parado (a principal manobra de trabalho em Portugal), reage em voz alta: «Oh meninas! Isto aqui não é para fazer barulho!» A minha leitura, mas isto sou eu armado em esperto, é que ele pensou: Então o raio das chinesas vêm para o nosso pobre país, que tem tantas dificuldades, roubar-nos os postos de trabalho e viver às nossas custas e ainda por cima põem-se a fazer barulho como se isto fosse delas. Temos que as pôr no lugar antes que seja tarde demais.
Um outro acontecimento refere-se a um conhecido meu (ninguém que o conhece lê este blog, pelo que a sua identidade fica preservada), que se exalta com frequência com o drama dos palestinianos, que não suporta os israelitas que massacram o pobre povo. Não quero iniciar aqui uma discussão sobre este assunto tão debatido, encetando por uma explanação das razões de um lado e de outro – até porque me parece mais uma questão de falta de razão de ambas as partes. Vi essa pessoa folheando o jornal, como o faz todos os dias com muita atenção. Há uma notícia sobre o célebre massacre do Ruanda (1 milhão de mortos em 100 dias), mas nem por 5 segundos ele se detém nela. Mas compreende-se, afinal são pretos e parece que nem têm ideologia. Talvez não fosse esta a ideia de Nietzsche quando afirmava que o super-homem devia criar os seus próprios valores.
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