quarta-feira, fevereiro 11, 2004

Portugal sem problemas em assumir o que não é


Há uns dias atrás chamaram a minha atenção para algumas peculiaridades nacionais. Que estranho é, ser Portugal uma das maiores potências mundiais no hóquei em patins, com vários títulos ganhos, mas não se vê ninguém nas ruas andando em patins. E os poucos que o fazem, andam em patins em linha, uma moda importada do exterior.

Portugal, país do fado. Alguns fadistas portugueses são recebidos e aclamados nas maiores salas de espectáculo do mundo. Diz-se que o fado canta a alma portuguesa, mas não se vê ninguém a cantar o fado nas ruas, e mesmo nos bairros típicos só esporadicamente. Existirá fado não existindo um cantar espontâneo do povo?

Acrescentaria ainda dois exemplos. Sobre o futebol. Com 3 jornais diários desportivos, muitas transmissões de jogos pela televisão, programas sobre futebol com comentadores dos “3 grandes”, jogadores portugueses sendo estrelas de grandes clubes estrangeiros. Mas já não se vêem miúdos jogando “à bola” nas ruas, como o fiz muitas vezes em criança.

Por outro lado, nunca nenhum português se distinguiu como piloto de F1. Mas muitos conduzem nas estradas como se estivessem num grande prémio.

Alguns espanhóis, auto-críticos, falam do problema da arrogância espanhola, de serem demasiado afirmativos, e elogiam a humildade portuguesa. Acho que são ingénuos. Se bem que a forma de ser espanhola seja muitas vezes excessiva (os espanhóis não são todos iguais, atenda-se), é incomparavelmente melhor que o estilo “Português Suave”. No fundo, o modo luso nada tem de humilde. É apenas falta de garra, de iniciativa e até de coragem. Alguns, ao verem o nosso olhar baixo e triste, acham-nos profundos. Talvez a inveja tenha algo de profundo.