sexta-feira, fevereiro 11, 2005

O autocarro luso

Expo 98. O autocarro luso conduzido por Guterres segue a elevada velocidade pela alta montanha. Os lusitanos estão eufóricos, nunca tinham estado tão perto do céu. Algumas vozes pedem mais velocidade, outros dizem que o autocarro não tem chassis para aguentar tais esforços, mas ninguém lhes liga. Os anos passam, a condução de Guterres era monótona e os lusos protestaram. O condutor Guterres amuou e foi embora.

De forma inesperada, o líder das críticas, Durão, foi forçado a ser o novo condutor. Pouco depois começou a gritar que o autocarro não tinha travões, os amigos de Guterres discordaram. O condutor Durão, desesperado, mete uma mudança mais baixa, para tentar substituir a falta de travões. Os lusos protestam, estavam habituados a altas velocidades, não gostam do ritmo mais lento. Entretanto, começaram a aparecer evidências que confirmavam duas coisas terríveis. Não só o autocarro luso não tinha travões como já não estavam no cimo da montanha mas sim na perigosa descida. Mas a maior parte dos lusos ainda não acreditava.

O condutor Durão passa dois difíceis anos, em que garante que a velocidade reduzida estava a resolver o problema da falta de travões. Contudo, certo dia desapareceu depois de ter recebido um pára-quedas com o emblema da EU. Após um impasse, o fiscal do autocarro, Sampaio, autorizou Santana a ser o novo condutor. Poucos meses depois, o fiscal mudou de ideias. Dois candidatos a condutor disputam o lugar. O demitido/demissionário Santana e Sócrates, amigo do anterior condutor Guterres.

Sócrates afirma que vai resolver o problema da falta de travões dando confiança aos lusos e acelerando o autocarro. Santana afirma que resolverá o problema mudando os lusos de local, eventualmente trocando os da janela com os da coxia. Outros candidatos menos prováveis avançam outro tipo de soluções. O candidato Jerónimo diz que o problema se resolve nacionalizando o autocarro. O candidato Louçã prefere liberalizar o consumo de drogas e do aborto na última fila do autocarro. O candidato Portas acha que tudo ficará resolvido se colarem a fotografia dele na frente do autocarro. O candidato Monteiro propõe trocar os ocupantes estrangeiros por mulheres lusas que fiquem sempre dentro do autocarro a cuidar dos filhos.

O autocarro ganha velocidade, ao fundo avizinham-se curvas apertadas. Alguns mais lúcidos perguntam se não é possível substituir os travões. Ao que parece, o autocarro foi feito de maneira a ser muito complicada a substituição. Depois, o fiscal Sampaio é muito apegado aos anteriores travões, mesmo que defeituosos. O candidato Sócrates acha que o problema não é a falta de travões mas a redução da velocidade imposta pelo anterior condutor Durão. E o candidato Santana tem medo de substituir os travões porque sabe que isso seria impopular entre os lusos por implicar um esforço de todos. O autocarro luso tem um despiste anunciado.