segunda-feira, janeiro 17, 2005

O interesse pelas coisas

Há umas semanas atrás era uma ideia popular todos votarmos para as eleições americanas. Nunca tinha existido tanto interesse pelo evento. Não é difícil de explicar. Todo o mandato de Bush, especialmente depois do 11 de Setembro, foi bastante atribulado. Os debates sucederam-se, especialmente por meios electrónicos. Informação e desinformação competiam, quase sempre esta última prevalecendo. Posições acirradas, discussões de surdos, certezas a mais, análises a menos. Os temas eram complicados, muita coisa em questão. Poder, guerra, segurança, terrorismo, imperialismo, ideologias, invejas, incertezas, fim das civilizações e o seu confronto, a força das ilusões.

Portanto, com tanta coisa em causa e tanta mediatização não foi estranho tanto interesse pelas eleições americanas. Contudo, apenas umas semanas mais tarde, o interesse por estas questões parece ter ficado reduzido a nada. Falo também por mim, que acompanhei de perto os eventos. Actualmente continuo a receber o “Washington Post” diariamente por mail, mas depois das eleições, pura e simplesmente deixou-me de interessar.

Mas o mesmo se podia dizer de mil e um acontecimentos e que se nos varrem da memória com uma facilidade impressionante. Quanto tempo demorará até a memória do tsunami fazer apenas parte daqueles que directamente estiveram envolvidos? E o Euro 2004, parece que já foi há tanto tempo. E quando foram mesmo aquelas chuvadas torrenciais em Moçambique? E Timor, que semanas a fio abria os telejornais, por vezes mais de meia hora seguida, e agora voltou ao esquecimento. E tantas outras coisas que poderia dizer e outras que já não podia porque de facto já delas não me recordo mesmo.


Aquilo que causa a glória é também muitas vezes o que nos faz cair em desgraça. Ou dito de outra forma, aquilo que nos salva também pode ser a nossa perdição. Porque as civilizações não podiam sobreviver muito tempo se vivessem apegadas a acontecimentos traumáticos. Há que seguir em frente, sabemos isso. Contudo, esse mesmo esquecimento é o que tira toda a validade à História. Não apreendemos anda, por mais que possamos aprender com o passado. É por isso que todas as grandes catástrofes não naturais pelas quais a humanidade passou não foram impedidas, apesar de existirem sinais evidentes do que iria acontecer.