Votar em branco – Um significado obscuro
Não é de hoje. Mas cada vez mais as pessoas desiludem-se com os políticos. Perto de onde trabalho, estão dezenas de cartazes de uma associação que prega pelo voto em branco. Estes são indícios claros de que o niilismo se instalou entre nós. Ele já cá estava, é certo, mas agora parece querer-se tornar numa ideologia dominante. Estas pessoas, que certamente perderam tempo e dinheiro para fazer os cartazes, sentiram-se motivadas em afirmar que vale a pena cruzar os braços e ficarem olhar para todos com ar de descrédito.
As ideias do género “eles são todos iguais” são cómodas mas revelam uma grande falta de coragem e, já agora, de energia e criatividade. As pessoas que desistem, que assumem uma postura anémica, não têm qualquer razão para se queixar dos políticos. A sua atitude, de uma tremenda arrogância moral, é que é verdadeiramente deprimente. E nem pode ser confundida com algum tipo de neutralidade. Não, este tipo de atitudes é tudo menos neutro, visa mesmo causar alguma influência, ao mesmo tempo que se demite de toda e qualquer responsabilidade.
Mas há algo mais que isso. A atitude do voto em branco tem algo de emocional. As pessoas que insistem no voto em branco não estão desiludidas porque discordam dos políticos. Nem mesmo porque as várias alternativas políticas lhes parecem todas erradas. O típico “votante em branco” parece-me ser bastante ignorante em relação a estas matérias, e para ele tanto faz um trotskista como um liberal (caso existissem nos partidos portugueses). A sua desilusão acontece porque não existem políticos com os quais consegue estabelecer uma ligação emocional. Acabam por ser românticos, não lhes interessa as coisas da economia, da liberdade, da organização, da justiça.... Querem um sistema onde apareça alguém que os arrebate. Querem algo que só existe nas ditaduras.
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