O saber tornou-se redundante
Os sistemas sociais eram, até há pouco tempo, baseado em classes tendencialmente rígidas. Em alguns lugares, a linguagem das classes superiores não era compreendida pelas classes inferiores e vice-versa. Reduzida era a diferença no estatuto de um servo e de um animal de carga. Foram os processos económicos que permitiram romper com este sistema de classes. Transformações lentas, que criaram novas classes intermédias, sem limites rígidos, não eram uma promessa de liberdade fácil mas apenas de possível luz ao fundo do túnel. O desenvolvimento possibilitou que nas sociedades mais evoluídas as diferenças fossem de nível e não de grau. Os realmente ricos podem ter outro tipo de carros, casas e férias. Os “normais” podem ter exactamente as mesmas coisas mas de um nível inferior.
Contudo, a nível cultural o esbatimento de classes não ocorreu com a mesma velocidade. A cultura era algo misterioso e só alguns lhe poderiam ter acesso. Um elevado estatuto económico não tinha uma grande correlação com o nível cultural (aqui cultura entendida no seu sentido estrito). O nível cultural era fruto de empenho e curiosidade pessoais, acesso a meios de saber (muito dependentes do local onde cada um se encontrava) e sorte em encontrar as pessoas certas que permitiam uma adequada introdução ao mundo do conhecimento.
Este cenário passou a ser irrelevante. É impossível alguém conseguir surpreender com os seus conhecimentos quando qualquer um pode, em poucos segundos, procurar o que quiser num motor de busca. E não são apenas conhecimentos genéricos e superficiais que se podem obter, que se desmascaram facilmente na presença de alguém mais entendido. Estamos numa época em que milhões de pessoas estão empenhadas em acções de auto-aprendizagem por motivos lúdicos ou profissionais. É uma forma de tomar as rédeas do presente e do futuro com consequências imprevisíveis mas que depois de concretizadas nos levarão a achar inacreditável o modelo social existente antes desta grande revolução silenciosa.
O que poderá marcar a diferença? Não será o conhecimento nem a inteligência nem, talvez, a capacidade para fazer acontecer. Será, antes, o poder de estimular um grupo de pessoas, próximas ou a grande distância física, que queira interagir connosco.
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