terça-feira, agosto 08, 2006

Planear o resto da vida

Há duas formas de planear o resto da vida. A mais comum é traçar o caminho da “segurança” e comprometer-se com ele. Casar e ter logo filhos, comprar um carro demasiado dispendioso, meter-se num empréstimo de habitação por décadas. Obviamente que cada um é livre de fazer as escolhas que quiser. Mas ao certo, o que quer o indivíduo que faz estas escolhas? Em raros casos saberá exactamente as consequências dos seus actos, mas valoriza bem o que pode deles adquirir, pelo que os sacrifícios que fará estarão compensados. Contudo, na maior parte das vezes as pessoas vêm-se apanhadas de surpresa. Dizem que querem ser pais e mães mas depois não param de se queixar da carga de trabalhos que lhes dá o bebé. Surpreendem-se com o encargo mensal que é o carro e a casa, como se alguém os tivesse obrigado a comprometerem-se com algo que não desejaram. Afinal, o que queriam? A hipótese que aqui se avança é que desejavam segurança. Pode parecer paradoxal porque algumas das escolhas até os colocam em situações de risco. Mas a segurança que se fala é de algo mais profundo, é a segurança de ter um sentido para a vida. Esse sentido para a vida resulta de compromissos a que não se pode fugir. O indivíduo assumiu responsabilidades para além dele mesmo o que o faz sentir ter atingido outro estatuto que, resto, lhe é reconhecido por outros.

A segunda opção é mais arriscada. O objectivo é, mesmo que inconscientemente, procurar um sentido para a vida também. Mas assume-se à partida que não se sabe como lá chegar. É um caminho errático que não raras vezes conduz os indivíduos de volta às opções “tradicionais” mas agora de forma mais madura, percebendo bem o que é o fundamental e o acessório. Contudo, não se pense que existe uma única solução tradicional, a constituição de uma família alicerçada na monogamia. Desde tempos imemoriais houve outras soluções seguidas por poucos e que, afinal, também se podem considerar tradicionais. Podem incluir o sacerdócio, a eremitismo, o missionarismo, e mesmo a vida de judeu errante mundo fora, sem rumo traçado, até o indivíduo se descobrir a si mesmo esquecendo tudo o que algum dia foi.