Carrilho e o Careto
CARRILHO
Por acaso apanhei ontem o programa Prós & Contras, mesmo quando Carrilho estava em primeiro plano. A minha aversão visceral ao sujeito quase me obrigou a desligar a TV, mas algo me disse que se o fizesse podia perder um espectáculo ímpar. Do painel, apenas Pacheco Pereira era, à partida, uma figura sobre a qual nutria respeito, apesar de não estar sempre sintonizado com ele. Por incrível que pareça, há quem tenha a opinião de que Carrilho foi o “menos mau”. Quem diz este tipo de coisas já parte de premissas niilistas, mas mesmo assim não compreendo como se pode fazer uma avaliação deste género.
Até posso perceber que alguém tenha achado a prestação de Emídio Rangel adequada, não entrando pelo caminho do insulto, levantando algumas questões pertinentes sobre a má qualidade do jornalismo, apesar dele ter evidentes responsabilidades nalgumas das piores coisas vistas na TV. Também compreendo quem se tenha entusiasmado com a prestação de Ricardo Costa, que de forma sóbria e conseguindo sempre controlar o ódio em relação a Carrilho, lhe foi desmontando os argumentos e apresentando factos que provam a falta de carácter do filósofo. Mas também estou do lado daqueles que acharam Pacheco Pereira o mais equilibrado, por não ter entrado numa pessoalização excessiva, indo mais às ideias, citando serenamente o livro com exemplos onde Carrilho não foi sério mas reconhecendo a este a razão quando esta lhe assistia.
Agora o que é para mim um mistério é alguém poder achar que Carrilho esteve bem. O homem interrompia, não para dizer algo mas apenas para tentar impedir que outros falassem, insultava de forma histérica, usava todo o tipo de falácias para colocar na boca de outros coisas que eles não diziam, foi apanhado a mentir diversas vezes e constantemente fez o papel do hipopótamo a dizer que o crocodilo tem a boca grande. Não é a arrogância ou a vaidade em Carrilho que o tornam tão desagradável, que são características que outras pessoas também possuem mas ainda assim conseguem criar empatia. O que o trama é mesmo a falta de carácter.
EUROFESTIVAL DA ESTUPEFACÇÃO
Pois é, o comentador não gostou, ganharam os metaleiros vestidos de monstros, que horror. Os finlandeses levaram um estilo de música ao festival onde têm alguns pergaminhos, porque são oriundas deste país algumas das melhores bandas de metal do mundo. Não é o que se costuma ver por lá. E pensando bem, o que se costuma ver por lá? Por um lado, há os refogados do género da música representante de Portugal, com uma aposta semelhante a algo que já tenhamos ouvido antes e assim ficar mais rapidamente no ouvido. Há também aqueles que introduziram algum elemento étnico, mas ainda assim de forma tímida, caindo sempre em concessões a favor do mainstream. Há ainda quem apresentasse canções num estilo mais puro, com melodias mais trabalhadas, maior predominância da voz, mas com já tantas boas canções escritas, ficam sempre aquém do que já existe.
Por acaso apanhei ontem o programa Prós & Contras, mesmo quando Carrilho estava em primeiro plano. A minha aversão visceral ao sujeito quase me obrigou a desligar a TV, mas algo me disse que se o fizesse podia perder um espectáculo ímpar. Do painel, apenas Pacheco Pereira era, à partida, uma figura sobre a qual nutria respeito, apesar de não estar sempre sintonizado com ele. Por incrível que pareça, há quem tenha a opinião de que Carrilho foi o “menos mau”. Quem diz este tipo de coisas já parte de premissas niilistas, mas mesmo assim não compreendo como se pode fazer uma avaliação deste género.
Até posso perceber que alguém tenha achado a prestação de Emídio Rangel adequada, não entrando pelo caminho do insulto, levantando algumas questões pertinentes sobre a má qualidade do jornalismo, apesar dele ter evidentes responsabilidades nalgumas das piores coisas vistas na TV. Também compreendo quem se tenha entusiasmado com a prestação de Ricardo Costa, que de forma sóbria e conseguindo sempre controlar o ódio em relação a Carrilho, lhe foi desmontando os argumentos e apresentando factos que provam a falta de carácter do filósofo. Mas também estou do lado daqueles que acharam Pacheco Pereira o mais equilibrado, por não ter entrado numa pessoalização excessiva, indo mais às ideias, citando serenamente o livro com exemplos onde Carrilho não foi sério mas reconhecendo a este a razão quando esta lhe assistia.
Agora o que é para mim um mistério é alguém poder achar que Carrilho esteve bem. O homem interrompia, não para dizer algo mas apenas para tentar impedir que outros falassem, insultava de forma histérica, usava todo o tipo de falácias para colocar na boca de outros coisas que eles não diziam, foi apanhado a mentir diversas vezes e constantemente fez o papel do hipopótamo a dizer que o crocodilo tem a boca grande. Não é a arrogância ou a vaidade em Carrilho que o tornam tão desagradável, que são características que outras pessoas também possuem mas ainda assim conseguem criar empatia. O que o trama é mesmo a falta de carácter.
EUROFESTIVAL DA ESTUPEFACÇÃO
Pois é, o comentador não gostou, ganharam os metaleiros vestidos de monstros, que horror. Os finlandeses levaram um estilo de música ao festival onde têm alguns pergaminhos, porque são oriundas deste país algumas das melhores bandas de metal do mundo. Não é o que se costuma ver por lá. E pensando bem, o que se costuma ver por lá? Por um lado, há os refogados do género da música representante de Portugal, com uma aposta semelhante a algo que já tenhamos ouvido antes e assim ficar mais rapidamente no ouvido. Há também aqueles que introduziram algum elemento étnico, mas ainda assim de forma tímida, caindo sempre em concessões a favor do mainstream. Há ainda quem apresentasse canções num estilo mais puro, com melodias mais trabalhadas, maior predominância da voz, mas com já tantas boas canções escritas, ficam sempre aquém do que já existe.
Se há algo realmente criticável foi a representação portuguesa e tudo o que esteve por trás, que já em tempos escrevi sobre. Havia a convicção de que das canções participantes, a eleita era aquela que teria maiores probabilidades de ter sucesso “lá fora”. Não era a melhor, era óbvio que não, canção estereotipada e mal interpretada (ainda mais no festival com enganos óbvios). Os Chico-espertos do júri lá acharam que era isto que estava a dar. Enganaram-se, mais uma vez os últimos lugares ficaram garantidos. Estes mesmos iluminados acharam os caretos demasiado estranhos para um festival da canção, meu Deus, o que iriam dizer lá fora? Mas isto é uma boa metáfora do país, medo de arriscar, apostar sempre em fórmulas mais simplistas, com o mínimo risco possível e depois, não perceber que a aposta sem risco foi a pior de todas, mas para o ano a aposta há-de ser semelhante porque a memória é curta e a estupidez é longa.
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