quarta-feira, junho 06, 2007

Civilização e religião (6)

A IMPORTÂNCIA DA CULTURA – 4ª PARTE

O que se ensinava nas universidades pode ser chamado de alta cultura, que é uma emanação da cultura comum que começamos a adquirir desde a nascença. É a alta cultura que perpetua a memória da partilha colectiva, numa exaltação que torna tudo natural e sereno. A cultura comum, que em grande parte traduz os costumes da sociedade, deriva da religião e, sem esta, tudo se fragmenta. Várias instituições sobrevivem ao colapso das religiões, englobadas em movimentos que tentam fomentar outro tipo de partilhas comuns, como a nacionalidade.

É uma ideia que se tem tornado comum que todas as realizações positivas da civilização ocidental derivam de um afastamento da religião. Acontece que foram Jesus e São Paulo os primeiros a pedir a separação entre a religião e o Estado, e os valores de solidariedade e liberdade individual advém dos fundamentos do cristianismo. A tentativa de exterminar a alta cultura dos currículos universitários acaba por levar o homem erudito a separar-se da religião e, ao fazê-lo, cria um afastamento deste em relação ao homem comum.

As próprias alternativas aos currículos tradicionais acabam por ter um carácter teológico. As suas premissas são tidas como inquestionáveis e quem o tenta fazer recebe um de dois tratamentos. Ou é ignorado ou fica com o ónus da prova. Quem assume a defesa das causas progressistas foge do debate de ideias ao inverter o ónus da prova, afirmando que são os cépticos que têm de provar que eles estão errados e não eles que têm de mostrar que estão certos. Em tempos de menor alienação este crime contra a inteligência devia causar um calafrio, uma vez que é um método que serve para validar qualquer tipo de ideia, uma vez que elas deixam de valer pelos seus méritos mas sim pela inépcia dos que se lhes opõe. Na realidade a situação é bem mais grave já que quem domina as universidades são as mentalidades progressistas que não têm qualquer pudor em censurar e vetar as personalidades que não se vergam à sua ideologia. p>

Roger Scruton acaba a sua palestra com uma nota de esperança, confiando que nem todos os estudantes acreditam nesta farsa moderna e basta que um professor consiga lhes abrir os olhos para a verdadeira descoberta do “livro” para que isso provoque um desejo inabalável de maior iluminação, o que acabará por levar à constatação óbvia da grandiosidade da cultura ocidental.