quarta-feira, junho 13, 2007

Civilização e religião (7)

A GÉNESE DA CIVILIZAÇÃO

Russel Kirk, no seu ensaio “Civilization Without Religion”, indica o contributo que a religião terá dado à civilização. Seguindo a linha de historiadores como Christopher Dawson, Eric Voegelin e Arnold Toynbee, Kirk dá uma resposta que surpreende pela sua simplicidade. A cultura emergiu do culto, entendido como a reunião de pessoas que têm em comum o desejo e a prática da adoração de um poder transcendental. Forma-se assim uma comunidade que pode crescer e cooperar das mais diversas formas, como na defesa comum, na agricultura e, aos poucos, criando instituições mais complexas e abstractas, como o aparato legislativo. Uma grande civilização nos nossos dias é um intricado de culturas que tiveram origem em pequenos nódulos de adoração, há milhares de anos atrás, na Palestina, Grécia e Itália, por exemplo.

O culto religioso perdeu a sua força, os templos modernos têm uma arquitectura horrível, longe de ser inspirada pela imaginação religiosa, parece querer antes transmitir a ideia de que o homem é realmente desprovido de alma. Para alguns, este declínio religioso é um triunfo civilizacional, porque podem mergulhar de cabeça na ilusão da liberdade sem responsabilidade, pensando que é uma situação que se pode eternizar sem consequências. Mas a civilização que abandona a inspiração religiosa está condenada a fragmentar-se em átomos. Este perigo é reconhecido até por ateus, que propõem um substituto laico. O ideal nacionalista é constantemente sugerido, sendo bem conhecidas as experiências que o levaram ao extremo, com as piores consequências. Para Kirk não haverão ideais que tenham a mesma força e consequências benéficas que aqueles que a religião já nos ofereceu. Olhando para o histerismo doentio da ideologia ideológica, que se propõe a ser a grande unificadora global, não deixo de pensar que terá muita razão.