terça-feira, agosto 07, 2007

Civilização e religião (15)

A IMPORTÂNCIA DA RELIGIÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO OCIDENTE (2)

É bem conhecida a brutalidade dos eventos que ocorriam no Coliseu romano, sob admiração entusiasta da turba. Contudo é fácil esquecer que estes hábitos não eram excepcionais mas aconteciam regularmente na maior parte dos locais não tocados por certas crenças religiosas. O contraste com o comportamento dos cristãos virtuosos, humildes e mostrando amor ao próximo, atraiu muitos entre os povos pagãos. Esta compaixão cristã era particularmente impressionante quando actuavam junto dos doentes, que necessitavam amiúde de cuidados permanentes durante muito tempo e o risco para o caridoso era notoriamente real. Esta caridade entre os cristãos serviu também para criar populações mais resistentes e indirectamente foi uma forma de promover a demografia entre os seguidores da religião de Cristo.

Hoje em dia tornou-se moda a ideia que o cristianismo prejudicou as mulheres, mas a realidade diz-nos outras coisas. Nos círculos pagãos o pai de família tinha poderes absolutos e podia ordenar que a mulher abortasse, o que era frequentemente fatal. As jovens infantas eram também alvo de infanticídio por serem menos desejadas que os rapazes. E isto não é passado, se pensarmos na desproporção entre homens e mulheres jovens na China e na Índia. Por muito que se critique a ética cristã a este respeito, sem dúvida que colocou o estatuto da mulheres muito mais próximo do que tinha o homem.

O início do Génesis apresentou duas ideias que ajudaram a modular algumas marcas da ocidentalidade. Na passagem em que Deus criou o mundo, Ele depois observa que se trata de algo bom. Nas escrituras hebraicas a realidade do mundo advém de ser sido uma criação de Deus. Isto opõe-se a concepções dualísticas gnósticas e a outras que não vêm o mundo mais que uma ilusão.
Outra passagem bem conhecida do Génesis diz que o homem foi criado à imagem e semelhança do Criador e iria sobre todas a espécies reinar. As visões simplistas hodiernas não avistam nisto mais que um convite ao egocentrismo e um apelo à destruição do ecossistema. Contudo, uma concepção que coloca o homem no topo da hierarquia da criação, sabendo que há um Deus omnipotente que tudo vigia e lhe é infinitamente superior, dá ao homem responsabilidades e não direitos ilimitados. E num mundo onde a vida da maior parte das pessoas podia terminar a qualquer momento, por doenças que dizimavam famílias num ápice ou por ordem sumária de um qualquer governante ou senhor local, cada homem ouvir que tem algo à semelhança de Deus não era uma forma de o transformar numa monstro egocêntrico sem limites a colocar no querer. Era dar-lhe o mínimo de dignidade. Apenas com esta semente foi possível, muito tempo depois, conceitos como «liberdade» serem erigidos como autênticas instituições.