terça-feira, julho 03, 2007

Civilização e religião (10)

Antes de prosseguir esta série, que se estenderá pelo menos durante todo o mês de Julho, farei uma consideração acessória. É um exercício curioso tentar explicar a alguém a importância da religião na construção da sociedade. O mais comum é depararmos com uma reacção de espanto e horror. Não é raro mostrarem a sua desilusão por nos termos, supostamente, convertido à religião. O grau máximo de alienação está personificado, nos dias que correm, na religiosidade. É como se o convertido tivesse morrido, já não se pode contar com ele para nada. A religião tornou-se a nova peste, algo tão contagioso que se deve guardar o máximo de distância possível.

Contudo, se tentarmos explicar o âmbito das reflexões sobre religião, que neste caso não é pessoal mas social e cultural, não raro a reacção é de confusão, como se estivéssemos a expor um raciocínio paradoxal. A maior parte das pessoas deixou de conseguir conceber a religião como algo que possa ter um âmbito mais alargado que o pessoal e a comunidade religiosa. Esta “guetização” do religioso estende-se ao passado, como se constatou no preâmbulo da constituição europeia abortada, onde as referências à herança cristã tiveram de ser retiradas em nome do politicamente correcto. Naturalmente sobra ainda espaço para lançar umas farpas pelos pecados da religião, mas é uma avaliação acrítica, meramente achincalhante e que procura por todos os meios afastar-se da objectividade.

Entenda-se que esta proibição do religioso só é válida para o cristianismo e judaísmo. Budistas, hinduístas ou muçulmanos podem discorrer sobre todo o tipo de assuntos que serão bem vindos. Muitos condenaram o posicionamento da Igreja sobre a questão do aborto, mesmo tendo sido um envolvimento minimalista. E veja-se o horror que é recebida cada declaração do Papa que não seja inócua e previsível. Os próprios crentes colaboram nisto ao envergonharem-se de assumir a sua religiosidade. Sendo assim, torna-se imperioso que alguém de fora tome em mãos a tarefa da defesa da Religião.