terça-feira, julho 10, 2007

Civilização e religião (11)

A FORMAÇÃO DO OCIDENTE (3)

Dawson salientou que não devia ser o plano da Igreja o restabelecer da cristandade, muito menos fazê-lo a partir de um regime teocrático. As relações que importa considerar não são entre religião e Estado mas entre religião e cultura.
O interesse material é tido como a força unificadora da sociedade, enquanto a religião e a espiritualidade são vistas como fontes de divisão e contenda. Por isso a mentalidade dominante diz que urge afastar a religião de tudo o que seja o fulcro do desenvolvimento social e face a isso o Estado passa a ser chamado a intervir em tudo. Dawson acreditava que mais tarde ou mais cedo esta tendência ir-se-ia inverter e o papel fulcral da espiritualidade iria ser reconhecido, não numa mescla que corrompe a religião com a política e a política com a religião, mas da forma que o ocidente conhece, onde o cristianismo conseguiu ser o eixo do progresso transcendendo os aspectos políticos e económicos.

A educação é crucial neste processo. A constante especialização e o utilitarismo seriam as principais causas da desintegração cultural, no ponto de vista de Dawson. A fé que todos os problemas serão resolvidos no futuro por inovações técnicas cria a ideia de que não é necessário assumir responsabilidades no presente. A consequência é a alienação crescente das pessoas em relação à natureza, à sociedade e mesmo em relação a elas mesmas.
Mas como voltar a imprimir uma marca evangelizadora no ensino se Dawson não defendia a utilização dos meios coercivos do Estado para isso? A esperança advinha da contemplação da História. As grandes renovações culturais e mesmo civilizacionais não foram planeadas. Deveram-se a homens religiosos que se preocupavam sobretudo em proteger o seu modo de vida e a sua espiritualidade num contexto decadente. Foram eles que lançaram as fundações através da sua fé e converteram, pelo exemplo, os povos que se tinham paganizado à sua volta.