terça-feira, junho 19, 2007

Civilização e religião (8)

A FORMAÇÃO DO OCIDENTE (1)

Talvez ninguém tenha se empenhado tanto como Christopher Dawson em mostrar a importância da religião na formação do ocidente. O historiador e sociólogo não hesitou em considerar a religião como a chave para a compreensão da História. O forte anti-clericalismo dos meios académicos trouxe-lhe o inevitável esquecimento, passando décadas sem as suas obras serem editadas e muitos licenciados nestas áreas nunca tomaram conhecimento dos seus livros. Todo o esforço é reduzido para recordar algumas das ideias de uma figura que se empenhou na luta contra o espírito positivista e niilista na nossa era. Os próximos posts farão uma mescla do conteúdo do site http://geocities.com/dawsonchd/.
A maior parte dos académicos, intoxicados de marxismo e psicanálise, tem uma visão simplista da religião, como mero produto de forças materiais e psíquicas. Dawson, pelo contrário, insiste na necessidade de ver a religião como essencial na formação e transformações de uma cultura. Os primeiros trabalhos criativos de qualquer cultura tinham inspiração ou fins religiosos e não existem construções mais duradouras que as confirmadas ao transcendente. A influência religiosa é bem patente na instituição monárquica, mas mesmo o sistema legal tem caracteres que denunciam a sua inspiração religiosa.
Uma das características da cultura ocidental é o seu crescimento orgânico, um espalhamento para lugares afastados das origens, numa série de renascimentos motivados pela livre comunicação. Ainda hoje este processo acontece na transferência de tecnologia e na apologia que o ocidente faz da democracia. É uma característica que remonta claramente ao método de evangelização cristão e muitos dos renascimentos culturais foram sentidos como também sendo espirituais.
A tendência actual vai claramente no sentido de secularizar a sociedade e mesmo as instituições religiosas. A religião passou a ser vista como mera superstição, a ser removida de qualquer discussão pública. As reacções a alguns discursos do papa Bento XVI mostram que a religião, no ocidente, só pode manifestar-se publicamente utilizando uma retórica inócua, pluralista e inclusiva. O politicamente correcto tolera apenas a religião escondida, no máximo uma inspiração para as boas maneiras. Os próprios líderes religiosos contribuíram para a desvalorização da religião, quando se contentaram em ver o cristianismo como uma reserva moral que domava o capitalismo, desistindo de apresentar a sua religião associada aos fins últimos e à salvação da alma.