terça-feira, setembro 11, 2007

Civilização e religião (20)

REFLEXÕES DO ACTUAL PAPA (3)

Depois da Revolução Francesa surgiu nas nações latinas o modelo laico, onde «o Estado recusa o fundamento religioso e sabe que se baseia unicamente na razão e nas suas instituições.» A fraqueza da razão como suporte base torna este sistema vítima fácil das ditaduras. O que ainda torna os sistemas viáveis são os resquícios da anterior moral. Na Europa protestante é frequente existir uma religião de Estado que serve de fundamento moral. Apesar de serem sistemas mais sólidos que os anteriores, acontece um inevitável desgaste das igrejas de Estado e actualmente já não provém delas qualquer força moral.


O modelo dos Estados Unidos é distinto dos anteriores. A vida política segue um paradigma emulado do cristianismo protestante mas existe uma rígida separação entre Estado e Igreja. O futuro é também incerto quando a maior comunidade religiosa neste país já é católica, apesar de por enquanto seguir o princípio da separação religiosa.

Surgiu na Europa no século XIX o socialismo, que assumiu duas formas, a totalitária e a democrática. Muitos católicos sentiram-se próximos do socialismo democrático devido às afinidades programáticas com a doutrina social da Igreja. O modelo totalitário assente numa visão determinística da história era, pelo contrário, fortemente ateísta. Apesar disto, este socialismo apresenta um dogmatismo sem paralelo que subverte toda a moralidade europeia e de outras grandes tradições mundiais. Para este socialismo apenas o futuro é o juiz supremo e em nome dele e da sociedade perfeita que irá trazer «tudo pode ser permitido e até necessário.»

O naufrágio dos sistemas comunistas é normalmente atribuído à errada doutrina económica. Ratzinger discorda. «A verdadeira e autêntica catástrofe que eles deixaram atrás de si é de natureza económica; consiste no esgotamento das almas, na destruição da consciência moral.» Antigos comunistas não têm dificuldades em se tornar liberais na economia, afastando assim a problemática moral e religiosa. É não ver aqui o fulcro da questão que reside o grande perigo para a autodestruição da Europa.