quinta-feira, outubro 16, 2003

Mussolini é meu vizinho, Estaline foi colega de trabalho


Desiludam-se os que acham que vou aqui divagar por teorias da conspiração.

A falta de naturalidade com que se fala dos ditadores é assustadora, porque muitas vezes esconde admiração. Fala-se dos tiranos deste mundo como se tivessem uma natureza diferente, como se não fossem pessoas como as outras. Isto serve para exacerbar os horrores cometidos, para os evitar, mas sem sucesso. As ditaduras nascem quando há condições sociais para isso, e há um fantoche que assume o papel de líder.

Mas descrever o ditador de forma quase sobre-humana, com uma mentalidade diabólica, é perigoso, porque o Diabo é forte e o que é forte atrai. Talvez o poder seja a chave da questão, porque corrompe e, se for absoluto, corrompe absolutamente.

Mas aqui vou discordar. Vou dizer que o poder, ao invés de corromper, revela a corrupção. O poder é a janela que dá a ver aquilo que a pessoa já pensava, desejava e talvez ansiava. O poder não dá nada à natureza da pessoa.

Pode ser desanimador ver isto assim. Era mais fácil pôr as culpas em algo exterior ao ser humano. Mas quantas pessoas comuns, amigos nossos talvez, dizem que, se fossem elas a mandar faziam as maiores barbaridades, muitas vezes implicando morte e destruição. E fazem-no sem nenhum pudor. Pensamos que não é a sério, que é só um desabafo ou uma ânsia momentânea de protagonismo. É uma desculpa que também serve para nós porque, afinal, podemos ser os corrompidos…