quarta-feira, março 31, 2004

O azar de ter nascido português


Costuma dizer-se que o pessimista acaba por dar razão a si mesmo porque a sua atitude negativa vai conduzi-lo inevitavelmente ao fracasso. Para ser bem sucedido em algo, não é possível que se espere de braços cruzados pela sorte. Claro que há excepções, e todas as semanas há pessoas bafejadas por ela na lotearia, totoloto e jogos afins. Mas é muito pouco realista esperar por esta ventura. No entanto, tal é a maneira portuguesa.

Mas o português não se deixa estagnar e evolui para um estádio seguinte. Ressentido por não lhe sair a boa fortuna,sem ter feito algo por isso, revolta-se contra tudo e contra todos de forma suave e velada – e acaba por explicar o seu estado com acções exteriores a si mesmo. Na sua forma mais fatalista, diz apenas que nasceu com azar e de forma apática conforma-se e chora pelos cantos. Na sua forma mais viril, o azar passa a ser a justificação ideal para a criação de todo o tipo de ódios. No seu expoente máximo, propulsionado pela criatividade, esta atitude niilista e destrutiva acaba por ser vista pelos incautos como uma manifestação de grande carácter.

Deixar este caminho, que não leva a lado algum, não é fácil. Na verdade, quem enveredou por esta via já não pode falhar porque já nem tenta fazer seja o que for. Destruir é sempre fácil, umas vezes consegue-se menos, outras mais. É uma via de sucesso. A história da humanidade tanto é feita daqueles que tentam construir algo como dos outros que tentam destruir o que foi feito. Será que estou enganado ao pensar que o lado da destruição foi sempre o que teve mais adeptos?