segunda-feira, junho 07, 2004

Porque certas segundas-feiras são tão complicadas?


Ao contrário de muitas pessoas, a segunda-feira até é um dia agradável para mim. Mas esta está a ser uma excepção e tudo por razões que irei explicar.

Acordar com a televisão já ligada tem os seus riscos. Podemos deparar com uma coisa tão horrenda como esta campanha eleitoral “europeia”. Já foi provado que as emoções são uma forma bastante eficaz de comunicar e de provocar outras emoções, não necessariamente idênticas. A partir de hoje, chamo a todo o processo eleitoral de “Circulo do Ódio”.

Um círculo não tem nem um princípio nem um fim, no entanto, para fazer a sua descrição, há que começar por algum lado. Começo pelos políticos, que não resistem à tentação de enveredar por discursos com ataques políticos e pessoais que ultrapassam em muito o bom gosto. O elo seguinte são os jornalistas, que de um longo discurso, teimam em nos mostrar apenas a sua pior parte, a mais escabrosa, numa manobra de pornografia jornalística. E depois o público, que se delicia com tudo isto, tanto os mais broncos, que tentam papaguear os insultos que ouviram, como os mais intelectuais, que no fundo fazem o mesmo mas de formas mais refinadas (e doentias?).

Estes três intervenientes (políticos, jornalistas e público) funcionam como uma cadeia que se realimenta continuamente, fornecendo os estímulos suficientes para manter o modo de actuação. Mas se são apenas três entidades, poderia as ter descrito como um triângulo. Na verdade, para ser um triângulo, teria de existir uma uniformidade total em políticos, jornalistas e público, o que felizmente não acontece. O círculo é uma imagem mais apropriada, porque comporta um maior número de intervenientes e nem sempre é óbvio onde se passa o testemunho entre cada uma das partes.

No entanto, o que às vezes nos parece um círculo não passa de uma elipse que vai inevitavelmente entrar em colapso sobre si mesma. Talvez seja este o caso. É certo que a campanha vai terminar em breve mas a “Elipse do Ódio” vai continuar, porque já existia antes. Resta saber se irá terminar por um colapso ou se irá extinguir por uma maior abertura das mentes.