quinta-feira, maio 06, 2004

E é de futebol que nós (homens) gostamos (2)


Uma menina na baixa de Lisboa abordou-me. Já sabia de antemão as suas intenções, preparada ela para me fazer um questionário que serviria de prelúdio à venda de outra coisa qualquer. Decidi apenas sorrir e responder-lhe afavelmente que não estava disponível. No entanto, a sua pergunta surpreendeu-me: «É benfiquista?» Por momentos, senti-me tentado a responder, mas consegui conter-me. Percebi a estratégia. Falar de futebol, de um clube e, em Lisboa, do Benfica, tem grandes probabilidades de suscitar interesse. E mesmo se fosse sportinguista ou portista, a tentação era também responder logo, para afirmar que não era benfiquista.

Quando mais novo, houve uma altura em que tentei gostar de futebol. Alguns devaneios de fim de adolescência diziam-me que ver futebol era sinal de pouca estatura intelectual. Ou dito de outra forma, o futebol era coisa de broncos e eu queria ser visto de outra forma. Mal sabia eu que, passados 10 anos, me iria identificar bastante mais com as pessoas simples, especialmente do campo, do que com os intelectuais deste país. No entanto, sempre ficou para mim um mistério a razão da fobia feminina ao futebol.

Esse mistério ainda não foi desfeito por mim. Claro que percebo que há quem não goste de futebol e que a maior parte das mulheres se insira nesse grupo. Mas a grande dúvida é dos motivos porque tantas mulheres não suportam que os homens gostem de futebol. E não é só em relação aos “seus homens”. Tenho reparado, por várias vezes, que muitas mulheres não têm qualquer pudor em tentar ridicularizar o “gosto masculino” pelo futebol, mesmo que isso envolva serem deselegantes para com desconhecidos. Algo as irrita tão profundamente que o espírito se lhes turva. Não sei o que é, mas incomoda-me...