segunda-feira, novembro 29, 2004

E é sobre futebol, sim senhor

Perguntam-me porque razão me fiz sócio do SLB. Porque teria sentido depois do Benfica ser campeão e não nas actuais condições. É certo que uns sucessos de início de campeonato abriram as expectativas dos inocentes. O jogo de ontem contra o Leiria mostrou uma pobreza franciscana, não de um deslize pontual, mas de carências profundas que só poderão ser mascaradas por adversários medíocres. Se ficarmos entre os primeiro 5 classificados, já será bom. Ganhar a liga? Nos próximos anos não. Por isso mesmo, tem sentido ser agora sócio, nos maus momento e sem esperança à vista.

Por incrível que possa parecer, ainda acredito menos neste presidente do que em João Vale e Azevedo. Luís Filipe Vieira, ex-presidente do Alverca, clube ex-filial do três grandes, saberá como poucos o que é essa coisa do sistema. Ele faz parte do sistema, assim como a sua imensa mediocridade. Tentou convencer-nos que poderia rivalizar com os falcões do sistema. Mas o que os sistemas têm de característico é que, ao fim de algum tempo, ganham uma inércia que os faz sobreviver por si próprios.

Dias da Cunha disse que os rostos do sistema são Pinto da Costa e Valentim Loureiro. Mas o que significa isso? Que foram estas personalidade que criaram o sistema e o manipulam a seu belo prazer? Como o fariam? Subornos, pequenos favores, ameaças de morte, presentes de Natal, palmadinhas nas costas, pressão na comunicação social, chantagem emocional?

Primeiro que tudo, acho que impossível dominar o sistema. Esse tem sido o erro fundamental de sucessivos presidentes de Benfica e Sporting, achando que com algumas manobras e colagens temporárias a figuras do sistema, se possa fazer com que o poder mude de esferas. Aqueles que querem dominar acabam por ser dominados. Mas se não é possível dominar o sistema, pode-se perceber qual é a melhor forma de a ele se adaptar e ser assim beneficiado. Isso implica deixar ser-se humilhado em várias circunstâncias, mas também humilhar, mentir, perder a honra e a dignidade. Pinto da Costa é a pessoa indicada para estas manobras, com a sua personalidade escorregadia. O FCP deve-lhe muito, pois Pinto da Costa abdicou de ser um ser humano para ser uma aberração da natureza em favor do seu amado clube.


Estou a ser duro demais? Na verdade, penso que não. Há um certo receio de falar de questões de poder. Medo de morte. A religião é uma coisa perigosa, e o futebol, como a única religião em Portugal actualmente, requer cuidados especiais. Não há figuras de referência pela positiva. Pode-se pensar que a corrupção é maior nos grandes clubes, mas a verdade é que é nos pequenos clubes que se sucedem direcções que se aproveitam deste regime de impunidade para fazer gestões surrealistas. Num sistema sem controlo e sem ética, quase tudo é permitido. Até tentar ser honesto. Por isso, e por essa réstia de esperança, continuarei a ser sócio.