quarta-feira, outubro 20, 2004

Imbecilidades Públicas

Consta que o actual executivo de Pedro Santana Lopes (PSL) tem um plano para dominar a comunicação social. Quererá isto dizer que finalmente alguém vai fazer frente ao Bloco de Esquerda? Na rádio ouço Nicolau Santos, personagem de ar simpático, bem conhecida do Expresso, ridicularizar o desmentido da sesta de Pedro Santana Lopes. É curioso que o Expresso tenha achado importante divulgar que PSL dormiu a sesta, mas acha ridículo desmentir tal notícia. É preferível manter a mentira?

Nicolau Santos avança com um poema divertido de Drumond de Andrade, que tenta por em ridículo a cabala delineada por Rui Gomes da Silva. Essa cabala envolvia, presumivelmente, o Expresso, o Público e Marcelo Rebelo de Sousa. José Manuel Fernandes, director do Público, reage e quase chama fascista ao governo, mas também dando a entender que a actual conjugação de forças nos media é demasiado potente para ser derrubada por este governo de latão (palavras minhas).

Mas não só há vozes contra o governo. Luís Andrade, director da RTP, defende Morais Sarmento. O ministro não quer mandar nos conteúdos, não quer dar recados aos jornalistas, quer apenas fazer o que se faz em qualquer parte do mundo, dar algumas orientações programáticas, como a de impor que haja ficção nacional. E continua com um exemplo óptimo, que é o de se nada for feito continua a pouca vergonha de mostrarem desenhos animados japoneses às crianças cheios de violência e sexo. Que este senhor desconheça por completo a cultura japonesa ainda se percebe, uma vez que vivemos num país de ignorantes, mas ele nem faz um esforço para perceber a própria cultura ocidental. Se o fizesse saberia que os contos de fadas, que alguns psicólogos consideram das coisas mais valiosas para a construção da personalidade da criança, estão cheios de sexo e violência.

Mas a questão de fundo qual será? Estaremos a assistir a uma luta entre uma imprensa livre e um governo censor? Para isso ser verdade era preciso termos uma imprensa livre, mas o que existe mais não é que propaganda barata. Propaganda do ódio sobretudo, caótica, pouco construtiva. Se bem que os media possam ser pontualmente influenciados por vários grupos de pressão (partidos, sindicatos, associações, grupos empresariais, etc.), notam-se apenas duas constantes: procurar o que é pequeno, mesquinho, ridículo, bater em quem está por baixo, e depois não tocar nas vacas sagradas (Presidente da República, Mário Soares, Bloco de Esquerda, Bombeiros, Sindicatos, Sociedades Secretas, etc.)

Por isso não me espanta que o governo queira alterar isto e colocar algumas rosas a seu favor onde só se encontrariam espinhos antes. Rui Gomes da Silva (RGS) começou por avançar com umas “declarações infelizes”, mas que agora se começam a se perceber como uma declaração de “guerra fria mediática”. Provavelmente RGS foi escolhido como o sacrificado, aquele que vai levar com o maior impacto reactivo, mas mais membros do governo parecem avançar com uma aparente ausência de estratégia. Não me parece que o governo queira criar uma censura, mas apenas ter vozes suas aqui e ali que contrabalancem a constante crítica.
Será esta actuação do governo legítima? Pode parecer politicamente incorrecto, mas direi que se não for ilegal, é tão legítima como a actual actuação dos media. Claro que fazer isso à custa dos meus impostos é chocante, mas vivemos num pais em que gastar mal o dinheiro dos contribuintes é um hábito que todos gostam de praticar. Não está em causa substituir a verdade pela mentira mas umas mentiras por outras. Podemos lhes chamar direito ao contraditório ou o que seja. No fundo, nada de anormal me parece ocorrer. Todos os governos gostam que falem bem deles, e os jornais odeiam perder poder. Será por isso que eu agora até deixei de ver manchetes dos jornais?