quinta-feira, dezembro 09, 2004

O nosso herói


No post anterior (que já foi escrito há tanto tempo que já me andam a enviar SMS pela demora pelo próximo…) faço alusão a Jorge Nuno Pinto da Costa (JNPC) de forma muito pouco abonatória. Não é minha intenção vir agora, após a sequência de acontecimentos que o fizeram arguido de um processo onde é acusado de vários crimes, dizer que já desconfiava, vejam bem como fui premonitório, ou outro comentário de uma declaração de vitória. Fiz uma classificação sumária apenas baseado nas coisas que JNPC tem feito à frente de todos, sem qualquer pudor, insultando, incitando ao ódio, ridicularizando, espezinhando quem sabe que não pode responder na mesma moeda.

JNPC é para mim um ser aberrante por aquilo que tem feito às claras. E para que não se pense que isto é uma questão de clubite, não tenho muito apreço pelo presidente do meu clube, Luís Filipe Vieira. E podia prosseguir com este, que questionado sobre os acontecimentos sobre JNPC começou por dizer que não comentava. Logo a seguir desmentiu-se, começando a comentar, dizendo que nada disto o surpreendia, e disse que os jornalistas eram uns cobardes porque não pegavam em nada contra JNPC. Por acaso até concordo que os jornalistas são completamente subservientes a JNPC, muito mais até que ao próprio FCP, o que devia ser o contrário. No entanto, Luís Filipe Vieira também não revelou coragem alguma quando era amiguinho de JNPC. Será que nessa altura JNPC era impoluto e agora, que se zangaram, é que deu a fazer umas sacanices?

Mas continuando, logo nos dias em que rebentou a polémica sobre JNPC um dos seus adeptos, um dos chamados populares, já com alguma idade, fez uma defesa do seu mestre, admirável. Dizia ele para as TV que, prontos, já se sabe, que no mundo do futebol é natural que aconteçam assim umas coisas… Mas agora o FCP ser continuamente beneficiado devido a corrupção, não achava que fosse verdade. Numa só penada ele deu como certo ser JNPC culpado e isso ser natural, como ainda lançou a ideia de uma conspiração que duraria há anos. Melhor defesa era impossível…

Mas isto são apenas curiosidades, porque achei preocupantes as declarações de António Marinho, o candidato a bastonário da Ordem dos Advogados. Dizia o senhor, num programa matinal de educação do povo ignorante, que não tinha sentido todo este aparato à volta de JNPC, que isto só servia para desviar atenções de outros problemas, que a justiça devia se ocupar de outras coisas e que isto não ia dar em nada. Espantoso…

Mas dissecando por miúdos, quanto há questão de não ter sentido fazer todo um aparato à volta de um julgamento de uma figura conhecida. Bem, acho que tem tanto sentido quanto a um aparato feito à volta de qualquer outra figura pública. É certo que são coisas um pouco doentias, fruto dos tempos, que dão azo a comportamentos irracionais, mas era preciso criticar todos estes acontecimentos por igual e não distinguir este. Não vi tanta indignação por outros destaques que envolveram outras figuras públicas, mas este senhor acha que JNPC merece diferente tratamento. Vi um aparato 100 vezes maior aquando dos processos relacionados com João Vale e Azevedo, mas aí ninguém se preocupou se fazia sentido ou não.

Se este acontecimento serve para desviar atenções de outros problemas? Sem dúvida, mas não me parece ser isso obra de uma cabala mas apenas o curso natural das coisas. Lembremos, por exemplo, as eleições americanas, que decorreram há tão pouco tempo que a segunda administração Bush ainda nem tomou posse e que despertaram por cá um interesse nunca visto. No entanto, os acontecimentos recentes mais mediáticos parece que a colocaram num passado já distante. Alguém se lembrou de dizer que a dissolução da Assembleia da República por Sampaio foi uma manobra para fazer esquecer as eleições americanas?

Mais incrível ainda foi a ideia de que os tribunais não deviam tratar destes casos e que isso ficasse apenas nos organismos desportivos. Passaria a existir um segundo estado, dentro do estado. Para além de decidirem os castigos a aplicar aos jogadores por cartões amarelos e cabeçadas, passariam também a lidar com casos de corrupção, tráfico de influências e já agora, se seguimos por este caminho, porque não todo o tipo de crimes desde que se pudesse alegar terem algo a ver com desporto? Bem, mas este senhor parece mesmo saber do que fala, porque afirmou que tudo isto não ia dar em nada…