A vida intelectual dos macacos - 2
Costuma dizer-se que os exemplos vêm de cima. E há muitas pessoas que acham que a televisão está acima de nós, quase como uma referência espiritual, apesar de não assumida. E com comentadores como Luís Delgado, Carlos Magno, Miguel Sousa Tavares, Fernando Rosas, Perez Metello, aparecendo regularmente nos meios televisivos, é natural que os maus exemplos se propaguem. Comentadores fast-food que fazem pretensas análise on-line, descortinando causas e prevendo consequências.
Os três vértices da análise, descrição, causas e consequências, mais não são que uma cobertura para papaguear crenças, ideologias ou mesmo o puro ódio e inveja. São as descrições razoavelmente fiéis à realidade? As causas apontadas são credíveis? As consequências previstas verificaram-se? Sucessivamente, não, não e não. E quando, por acaso, acertam, logo nos fazem lembrar disso por ser acontecimento tão raro: «Eu antes já tinha previsto...», «Como eu sempre disse...», «Como eu há muito defendo e agora se veio a provar ser verdade...»
O que estes comentadores propõe fazer é, antes de tudo, um jogo aos seus ouvintes. Todos gostamos de uma disputa, de termos um lado para defender e outro para atacar. A mensagem implícita é “Junta-te a nós, não percas tempo, o confronto é excitante!” Afastada está a possibilidade de tentar fazer as pessoas pensar. Não, os espectadores não têm nada que pensar. Eles têm é que assinar por baixo e se não gostam não ouçam, ou então juntem-se ao outro lado porque também é preciso ter inimigos. Por isso, os comentadores nunca mostram dúvidas, para que os ouvintes também não as tenham.
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