segunda-feira, maio 02, 2005

Futuro minado


Boa parte das pessoas com quem privo são professores. Não é de meu gosto falar de questões de trabalho, mas tenho notado neles com o passar dos anos um desgosto cada vez maior em serem professores. Alguns pensam mesmo em deixar a carreira, o que seria uma perda apreciável já que os reconheço como bastante superiores à média. As razões que levaram a este estado de coisas serão várias. Contudo, isto não deve servir para fugirmos à questão concluindo que nada se pode fazer, até porque boa parte das razões se devem a erros que se foram acumulando e de consequências bem previsíveis.

Os nossos sucessivos governos persistem na atitude paternalista em relação às escolas. As escolas obedecem ao ministério, fundamentalmente. Isto parece contrariar as medidas de maior autonomia que têm sido conferidas, mas no essencial nada se alterou. As escolas não contratam professores, não podem gerir o seu quadro docente, não tem autonomia curricular e logo não têm possibilidades de se diferenciarem das restantes. Contudo, o papel dos pais talvez seja ainda mais prejudicial.

Desde sempre que se mostrou consensual que os pais têm um papel a desempenhar. De forma demagógica, sucessivos governos pensaram que isso se promovia dando aos pais o poder de chantagem sobre os professores. O pai ou mãe, que antigamente pedia para o professor bater no filho sempre que necessário, hoje em dia está invariavelmente ao lado do filho. Grande ilusão de se pensar que isto é um verdadeiro apoio. Os pais não se interessam se os filhos são mal educados, se insultam os professores, se não se esforçam, se não aprendem. Os pais modernos pensam que o sucesso escolar se mede pelas pautas e farão tudo por tudo para as notas serem o desejado.

A consequência é que os professores honestos estão envolvidos em constantes conflitos, são até mal vistos pelos próprios colegas. O professor que dê ao mau aluno (que até tem boas possibilidades de ser mal comportado) a nota suficiente para passar, tem a vida facilitada. Não terá com o mesmo aluno anos a fio, não terá de aturar os pais que desculparão o filho e culparão o professor com o primeiro argumento que lhes vier à cabeça.

A introdução de exames nacionais poderia levar estes supostos pais (não se percebe porque foram pais se é assim que olham para o futuro dos filhos) a fazer um simples raciocínio. Não basta o aluno, por formas meio ilícitas, ter uma nota razoável na pauta, será preciso uma eficaz consolidação de conhecimentos. Talvez quando faltarem umas semanas para o exame acordem para a situação. Aí voltarão a culpar a escola e os professores, por não ensinarem nada, mas nunca se lembrarão que foram eles que durante o ano lectivo ajudaram a minar o ensino do seu filho, que promoveram os professores “facilitistas”.