terça-feira, agosto 22, 2006

Notícias do Gerês


Em missão no Gerês, escrevo este curto post, utilizando os serviços móveis para me ligar ao resto do mundo. Nestes dias a ecologia é quase uma obsessão, políticos, empresas, pessoas comuns gostam de utilizar expressões como “amigo do ambiente”, “biodegradável”, “desenvolvimento sustentável”. Quase que nos faz acreditar que somos um país de amantes da Natureza, que contempla as maravilhas naturais sempre que pode e tudo faz para as conservar. Contudo, se repararmos à nossa volta, o lixo é omnipresente, o meio ambiente é um caixote do lixo onde vão cair todas as nossas desatenções. E os tais amantes da Natureza, sempre tão prontos a mostrarem um ar afectado quando há uma causa mediática, o que fazem eles para tornar este país mais limpo? Também não os vejo por cá a contemplar a Natureza que dizem tanto apreciar. Dirão que não é altura para isso, é tempo para férias, praia, banhos de água e de Sol e não para andar a roçar mato, como eu tenho andado a fazer. Acontece que em outras alturas do ano também são muito poucos os que cruzam algumas das belas paisagens que ainda vamos tendo. Diria que este amor pela Natureza, tão apregoado, anda a ser muito pouco consumado.



Em Pitões das Júnias existe um mosteiro em estado de algum abandono. De difícil acesso, o seu isolamento dá que pensar. Penso também no mosteiro na Arrábida e no convento dos Capuchos e no seu isolamento. Em quase todas as religiões há duas variantes. Há uma visível, que mais que se misturar com a sociedade envolvente, a tenta evangelizar. Épocas há em que esta variante mundana mais não tenta ser que um dos protagonistas no jogo do poder. A essência é guardada pela segunda variante, a que é praticada por poucos em retiros afastados, talvez para não caírem sob alçada da variante mundana. Aconselho uma visita guiada ao convento dos Capuchos em Sintra, onde se fica a saber que, ao invés de serem evangelizadores de pacotilha, aqueles monges tinham regras extremamente severas em relação aos noviços. Para testar a força do seu carácter, aos noviços não era dirigida palavra durante um ano. Estes monges foram também considerados os primeiros ecologistas pela forma harmoniosa como tentavam interagir com a Natureza. Existe ainda uma sala muito curiosa, com uma excelente acústica, onde para não se gerar o caos é preciso falar com um volume apenas no limiar da audibilidade. Este controlo, que é sobretudo mental sobre o fluxo desordenado dos pensamentos, é das coisas mais necessários nos dias que correm. Era uma boa ideia criar mais salas como esta. Não é preciso ser religioso para lá entrar.