terça-feira, março 06, 2007

Indícios do suicídio civilizacional (VI)

DECLÍNIO ESPIRITUAL

O declínio espiritual é, sem dúvida, a principal causa do suicídio civilizacional. A obliteração do plano espiritual, ao contrário do que se possa pensar, não conduz necessariamente a uma anarquia social, a um erradicar dos movimentos de grupo. Há uma tentativa imediata de ocupação do espaço vago através de várias propostas alternativas. Um terreno que deixa de ser cultivado não é naturalmente substituído pelas variantes mais nobres do mundo vegetal mas sim pelas ervas daninhas. Acontece o mesmo nas matérias espirituais, as religiões seculares são substituídas por esoterismos descabidos, por versões adulteradas de várias religiões, por um sincretismo difuso de diversas espiritualidades e por uma tentativa de realizar a “modernidade”, que se expressa de formas tão diferentes como o ateísmo militante, a ecologia dogmática, a militância pelas causas progressistas (sim ao aborto, não à pena de morte; sim às drogas duras, não ao tabaco; sim à homossexualidade, não à família; sim ao terrorismo, sim à eutanásia) e claro, o eterno marxismo puro e duro.

O florescimento destas “aberrações espirituais” é comummente explicado pelo descrédito das religiões tradicionais e pela maior liberdade das sociedades ocidentais. O que nos omitem é que o descrédito das religiões tradicionais, especialmente o cristianismo, em muito se deve a um esforço anticlerical nascido do iluminismo e que se infiltrou na própria igreja católica. Apesar destas “espiritualidades alternativas” usarem a liberdade para se afirmarem e ganhar relevância, os seus fins últimos são, sem excepção, instituir algum tipo de totalitarismo.

Algo que nos permite perceber que estas “espiritualidades alternativas” não surgem espontaneamente é olhar para as suas consequências e ver como se conjugam e complementam. Subjacente está a crítica ao homem branco, ao estilo de vida ocidental, ao capitalismo e ao cristianismo. Pode-se argumentar que isto é uma generalização excessiva. Pelo contrário, diria que não é válida apenas para os curiosos que entram nestes movimentos sem grande empenho e que não ficarão por lá muito tempo. Os que lá permanecem, mais tarde ou mais cedo convertem-se ao anticristo, ao antiamericanismo e ao anticapitalismo. Note-se que esta conversão nada tem a ver com as críticas fundadas que se possam fazer ao cristianismo, aos EUA ou ao capitalismo. É uma conversão que anula o sentido crítico, que institui o bem e o mal absolutos e tudo rege segundo esta classificação, sem uma sombra de dúvida. É fácil constatar que os fins últimos destes movimentos são os que referi e não os que proferem em viva voz quando vemos grupos de feministas apoiando regimes islâmicos que tratam as mulheres das formas mais aberrantes, mas também quando os grupos de “trabalho gay” tecem loas ao regime cubano, que manda prender qualquer homossexual. Em ambos os casos, o verdadeiro objectivo é fazer pirraça aos americanos e, por extensão, ao ocidente.

Se bem que a conversão seja um acto repentino, ela resulta quase sempre de incontáveis horas de exposição a propaganda mais ou menos dissimulada. A vulgata marxista, pura e dura, não provoca mais que sorrisos na maior parte das pessoas. Contudo, a essência da mensagem tem sido passada com bastante eficácia por vários movimentos. O renovar da linguagem e o espartilhar do conteúdo por múltiplas fontes torna difícil a identificação da unidade do movimento que nos conduz ao declínio espiritual. Contudo, são fáceis de identificar as seguintes mensagens um pouco por todo o lado:

- Os crimes das minorias étnicas devem ser desculpados devido ao passado colonialista e esclavagista dos europeus;

- O terrorismo islâmico é provocado pela pobreza e pela existência de Israel, ambas culpa do ocidente, em especial dos EUA;

- O vegetarianismo deve substituir o “fast-food”, aliás, todos os outros géneros de culinária;

- Os homossexuais são mais sensíveis e criativos que os heterossexuais;

- A mulher deve ser descriminada positivamente em relação ao homem;

- O capitalismo é auto-destrutivo e conduz a desigualdades sociais;

- O estilo de vida ocidental está a provocar graves alterações no planeta;

- A religiosidade é o oposto da modernidade, da criatividade e da razão;

- O cristianismo é inferior às religiões orientais;

Os próximos posts analisarão as razões destas ideias serem mais ou menos erradas, mas também questionarão os motivos para a sua contestação ser tão rara nos meios de comunicação tradicionais, no ensino e nas universidades.

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