terça-feira, outubro 09, 2007

Civilização e religião (23)

REFLEXÕES DO ACTUAL PAPA (6)

O Novo Testamento dá indicações sobre como deve ser o agir histórico. Em Romanos 13 pede-se submissão a todas as almas em relação às autoridades públicas, pois toda a autoridade provém de Deus. Claramente não há aqui qualquer apoio à causa revolucionária. A primeira carta de Pedro solicita a mesma submissão, fazendo ainda uma premonição acurada sobre o que será a mentalidade revolucionária muitos séculos mais tarde: «Actuai como homens livres, não como aqueles que fazem da liberdade um pretexto para a maldade…»


Em nada disto é preconizada uma divinização do Estado, que se torna claro na célebre resposta de Jesus aos fariseus e herodianos a propósito da questão dos impostos. César, como garante do direito, devia ser obedecido e receber o que lhe era devido. Mas César nunca deve tomar o papel de Deus, de onde se retira de imediato a necessidade de limitar o poder do Estado. Esta oposição ao Estado totalitário não se deve fazer através do uso da força mas aceitando o martírio sempre que em causa estiver a vontade de Deus.

Jesus, apesar de ser o Messias esperado, acabou por transformar o messianismo delineado no Antigo Testamento, deixando de lado a perspectiva escatológica-revolucionária. São quebradas as ilusões da política poder estabelecer o Reino de Deus. A esperança messiânica continua viva mas é colocada para além do tempo. «Ela evidencia os critérios morais da política e indica os limites do poder político, graças ao horizonte da esperança que deixa entrever para além da história e nela dá a coragem para se agir e sofrer rectamente.» (pp. 67) Mesmo o Apocalipse de João não deixa de ter esta fé na criação, no que diverge por completo da gnose.