terça-feira, outubro 16, 2007

Civilização e religião (24)

REFLEXÕES DO ACTUAL PAPA (7)

Face ao estabelecido anteriormente Ratzinger estabelece duas teses sobre a actuação política nos dias de hoje. Na primeira começa por estabelecer que a política é o domínio da razão moral que tem por fim último o garante da paz e da justiça. O discernimento racional deve ser uma arma de vigilância constante contra o espírito partidário que pretende impor uma corrente como sendo a única verdadeira, mas que apenas é uma camuflagem para um esquema de poder. Esta vigilância não foi exercida de forma eficaz contra o nazismo e o comunismo.


Depois da queda das grandes ideologias ganharam relevo outros mitos políticos com uma aparência mais credível, trazendo atrás de si o terrível engodo dos valores autênticos, nomeadamente os do progresso, da ciência e da liberdade. Desde sempre o progresso parece confundir-se com o próprio desígnio da política e, habituados como estamos nas sociedades ocidentais ao progresso nos últimos 100 anos, nem esperamos outra coisa. Mas não se pode esperar que venha daqui a sair o homem novo, como se teoriza no marxismo e no liberalismo.

«Ser homem recomeça do princípio em cada ser humano. Por isso não pode existir a sociedade definitivamente nova, progredida e sã, em que esperavam não só as grandes ideologias, mas que também se torna cada vez mais – depois de a esperança no além ter sido demolida – o objectivo geral por todos esperado. Uma sociedade definitivamente pressuporia o fim da liberdade.» (pp. 70) O futuro não deve ser uma evasiva para o presente.

Em relação à ciência, naturalmente que se deve reconhecer os seus méritos mas também apontar as suas patologias, mais evidentes na criação de armas de destruição e massas e nas experiências com humanos. «Por consequência, deve ser claro que também a ciência deve submeter-se a critérios morais porque se perde sempre a sua verdadeira natureza, quando, em vez de se pôr ao serviço da dignidade do homem, se coloca à disposição do poder ou do comércio ou simplesmente do sucesso como único critério.» (pp. 71)

«Finalmente, o conceito de liberdade. Também ele na época moderna assumiu diversos traços míticos. Não raramente, a liberdade é concebida de maneira anárquica e simplesmente anti-institucional, tornando-se assim, um ídolo: a liberdade humana deve ser sempre só a do justo relacionamento mútuo, a liberdade na justiça; de outro modo, torna-se mentira e conduz à escravidão.» (pp. 71)