quarta-feira, outubro 01, 2003

Notas sobre humor (3) – Gatos e televisão


Seria injusto não aludir ao Gato Fedorento como uma referência sobre o humor na blogosfera portuguesa. Utilizando uma linguagem acessível, e procurando sempre o pormenor que a todos passa despercebido, o Gato Fedorento usa um humor delicado, por vezes penetrante e levemente sarcástico. Tenho um palpite que os autores gostam de ser reconhecidos como inteligentes, cultos e, implícito nas tiradas humorísticas, sensíveis.

Gato Fedorento, também em vias de se tornar uma referência na TV, um meio mais complicado. Se o humor é muito bom ninguém percebe. Ninguém vê as séries inglesas que passam na RTP2 sábado à noite. E apesar de muito se ter falado no Seinfeld, apenas umas elites acompanharam a série. Herman já há muito desistiu de fazer coisas com mais nível porque sabe que não teria público.

O humor na TV, para o grande público, vê-se limitado a programas como "Os Malucos do Riso" ou “As Lições de Tonecas”. Começaram a revelar-se os primeiros interpretes de Stand up Comedy no "Levanta-te e Ri", a tardias horas na SIC. O formato vai um pouco mais longe que o simples contar de anedotas, algo que Artur Agostinho fazia na TV há 40 anos atrás, mas maior parte dos intervenientes não sabe a diferença entre ter realmente piada e ser engraçado frente aos amigos.

A Sic Radical está vocacionada para o humor. Tenho pena de não já não passarem séries de animação japonesas, que têm um humor que acho de completo. Mas as jóias da coroa fazem o que podem. O "Cabaré da Coxa"” vive bastante do talento e inteligência de Rui Unas, num cenário exíguo e informal, onde se liberta o ímpeto sexual do homem comum, tão censurado em outros locais. "O Perfeito Anormal" parece-me ser um formato de eterna experiência, e daí já resultaram dois filhos que conseguem andar por si próprios: "O Homem da Conspiração" e o "Gato Fedorento", versão televisiva.