segunda-feira, novembro 17, 2003

Por caminhos politicamente incorrectos (6)


HOMO, HETERO & BI – SEXUALIDADES

Com tanta teria absurda sobre a sexualidade humana, em especial sobre a homossexualidade, espanta-me ainda não ter lido, visto, lido ou ouvido algum dos argumentos que constam nas teorias que irão aqui ser expostas. Saliento que são teorias bastante primárias e sem qualquer validade, além de que se anulam uma à outra.

Teoria I

O homossexual, como indivíduo que ama e se excita por outro indivíduo idêntico a ele, revela nesta sua faceta um profundo egocentrismo. Na verdade, o homossexual não ama a outra pessoa, que apenas utiliza como projecção carnal de si próprio. Na impossibilidade de efectivar o acto amoroso/sexual na plenitude consigo mesmo, o homossexual escolhe alguém à sua imagem, um seu outro eu. O homossexual rejeita o outro sexo por as diferenças que o distanciam de si serem a tal ponto que lhe impedem de fazer esta identificação.

O heterossexual, ao se entregar a um indivíduo diferente, demonstra assim a sua superioridade, pois se esquece de si próprio, tendo a coragem de enfrentar o desconhecido. O heterossexual, ao fazer esta dádiva a outrem que não ele, revela o seu espírito altruísta, procurando a complementaridade e a harmonia, o que o torna verdadeiramente humano.

O bissexual oscila entre estes dois extremos, dando a conhecer assim a sua natureza esquizofrénica. Na realidade, o bissexual não é nem uma coisa nem outra, e tão pouco se fica pelo meio caminho. Porque o bissexual nem é capaz de se amar a si ou a outrem, o que o torna doente, tentando procurar a cura na imitação estéril dos modelos que têm disponíveis.

Teoria II

O heterossexual, amando o que é diferente de si, mostra que é fraco e com falta de amor-próprio. Isto parte da falta de confiança em si próprio, que o leva a procurar no diferente e no exterior o que pensa que não há em si. Amando o que é diferente, o heterossexual despreza o seu próprio ser, mas também o amado, que essencialmente não passa de uma figura terapêutica.

Por sua vez, o homossexual, amando o que é idêntico a si, afirma o seu amor-próprio e confiança nas suas virtualidades. Revela ainda a coragem que falta ao heterossexual, pois escolhe caminhar ao lado de “si mesmo”, desistindo da ilusória busca exterior a si.

O bissexual superiorizasse ainda ao homossexual, porque não só tem o seu amor-próprio e confiança, mas ainda a abertura de renegar as suas próprias certezas. Só o bissexual é capaz do verdadeiro amor universal, que começa em si próprio e se estende a todas as coisas, sendo o único realmente saudável.

E o Óscar vai para…

Como vêem, é fácil e rápido inventar teorias como estas e, com algum jeito, fazer alguns tolos acreditar nelas. Mais curioso seria fazer uma experiência em que, em vez das duas teorias serem apresentadas pela mesma pessoa, fossem expostas por pessoas diferentes que as defendessem acerrimamente, tentando diminuir ao mesmo tempo a teoria contrária. Com algum marketing, seria possível animar as hostes das nossas comunidades pseudo-intelectuais sempre ansiosas por disputas fúteis, e criar dois campos fortemente polarizados e antagónicos.

Quantas teorias absurdas como estas não terão nascido da especulação gratuita de indivíduos ociosos mas, por razões meio obscuras, terão tido um sucesso inusitado? Quanto mais o indivíduo pensar mais probabilidade terá de se enganar a si próprio. Pensar ou não pensar, será esta a questão?