quinta-feira, abril 08, 2004

Mais reacções


Um comentário de um leitor ao meu post anterior é de grande pertinência. Estarei eu a utilizar o blog para vir desabafar para aqui os meus casos pessoais? Antes demais, quero dizer que este post não é uma resposta directa ao comentário, mesmo que assim pareça. O que pretendo explicar é que o fundamental é não se tratar de uma questão pessoal, o que já tinha previsto fazer. Mas vamos por partes.

Este blog começou por ser quase etéreo, falando dos assuntos muito em abstracto, fugindo das actualidades e, sobretudo, dos assuntos pessoais. Aos poucos foi mudando e foi ficando mais humano. Hesitei em alguns posts, pelo risco de serem demasiado humanos. E nunca hesitei tanto como no último. A questão está na diferença entre o público e o privado. Mas o fundamento é a liberdade.

Felizmente que possuo vários grupos de amigos em que me sinto livre e entre os quais exprimo a minha criatividade. No entanto, não tomo a árvore pela floresta, e não consigo deixar de assinalar que a expressão de certas liberdades em público se encontram seriamente ameaçadas. E falo de liberdades elementares, não daquelas liberdades que limitam a liberdade dos outros. A razão do meu post foi apenas essa – correndo o risco de parecer algo distinto.

Sinto que chegou o momento de tomar uma atitude. Insultos públicos merecem ser publicamente denunciados, especialmente se seguirem um padrão bem conhecido. Acho que vivemos os primeiros sintomas de uma auto-destruição europeia. A mentalidade do espírito aberto desapareceu, e isso é o fim de tudo. Começou a era das certezas, da ausência de dúvidas, do pensamento perfeito. Como alguém fez notar, o pensamento perfeito é totalitário, porque não admite excepção.

Um blog serve de pouco. Não serve para mudar o mundo. Chamará a atenção de poucos. Só convence quem já está convencido. Então, para quê escrever? Acho que ainda há uma boa razão. A liberdade. Enquanto me for possível escrever livremente para um público sem fronteiras, apesar de muito reduzido, é o que farei. No fundo, acho que a melhor homenagem que posso fazer à liberdade é ser livre.

O subtítulo deste blog mudou. “Pensar. Escrever. Esquecer.” Já não me parece adequado. A minha última série de posts já vinha no sentido referir a morte anunciada da liberdade. Gostaria que me mostrassem que estou enganado.